sábado, 8 de outubro de 2011

AGÊNCIA FRANCE PRESS comete ERROS na Notícia do NOBEL 2011


Alexandre Medeiros (PhD, University of Leeds - Professor de Física e Astronomia, UFRPE)



Nos três últimos dias, ao tentar escrever um ARTIGO para o meu BLOG sobre o recente Prêmio Nobel de Física de 2011, li as notícias sobre esse assunto publicadas em vários jornais pelo mundo e notei um inquietante padrão de equívocos. A AGÊNCIA FRANCE PRESS cometeu dois erros grosseiros ao divulgar apressadamente a referida notícia e muitos jornais e revistas ao redor do mundo, inclusive no Brasil, espalharam os tais erros sem perceber.
A AGÊNCIA FRANCE PRESS afirmou inicialmente que: “o fato de a luz (das Supernovas do tipo Ia) ser menos intensa do que o esperado implicava que as estrelas estavam mais longe do que se acreditava”. Isso está CORRETO. De fato, isso é uma mera consequência da velha lei do inverso do quadrado da distância para os iluminamentos e também do fato complementar de que esse tipo de supernova Ia sempre explode com a mesma intensidade luminosa. Mas, ai então, se segue o primeiro erro na notícia.
O primeiro erro: A AGÊNCIA FRANCE PRESS acrescenta que devido a essa mesma queda na luz observada daquelas supernovas Ia pode ser constatada “que elas se afastavam mais rapidamente”.
O erro está no fato de a AGÊNCIA FRANCE PRESS dizer que foi a queda da luminosidade observada das supernovas que deu essa informação de que as mesmas estavam se afastando. Essa informação quem fornece é o “red shift” da luz, ou seja, o “deslocamento para o vermelho” das raias espectrais da luz proveniente da referida supernova. É preciso passar a luz proveniente dessas supernovas em um espectroscópio e analisar a direção do deslocamento de suas raias espectrais para se dizer se elas estão se afastando ou se aproximando. Isso é uma consequência do efeito Doppler e não tem nada a ver com a lei do iluminamento que estava certa apenas na primeira parte da notícia.
E mais: a ideia de que a expansão do Universo estava sendo acelerada só foi possível aos três ganhadores atuais do Premio Nobel inferir através da análise cuidadosa de várias (mais de cinquenta) explosões de supernovas Ia devido à correlação de suas distâncias crescentes com suas velocidades também crescentes obtidas com o auxílio da Lei de Hubble. A notícia deixa no ar que a referida descoberta teria sido feita com uma única observação de uma dessas explosões e apenas corroborada com a demais, o que é um equívoco
O segundo erro da AGÊNCIA FRANCE PRESS foi o ENORME EXAGERO de afirmar, logo em seguida, que: “há mais de 100 anos, grande parte da comunidade científica acredita que o universo está em expansão por causa do Big Bang”.
Como se sabe, o Big Bang é uma Teoria bem mais recente e que só veio a obter uma ampla aceitação na comunidade científica a partir de 1968, após a descoberta por Arno Penzias e Robert Wilson da chamada “radiação de fundo”, por ela prevista. Esta descoberta, inclusive que lhes valeu o prêmio Nobel de Física de 1975. Antes disso, a Teoria do Universo Estacionário do cosmólogo inglês Fred Hoyle era bem mais aceita entre os cientistas em geral.
Mesmo que nós atribuíssemos equivocadamente (como fazem muitos) a proposição inicial da Teoria do Big Bang, ou ainda da ideia mais simples do Universo em Expansão, ao americano Edwin Hubble (que nunca advogou publicamente essa teoria, mas que apenas descobriu o Red Shift que levou a ela); ainda assim, tal descoberta de Hubble se deu em 1929 e foi publicada em seu célebre artigo, enviado à Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, com o título: “Uma Relação entre as Distâncias e as Velocidades das Nebulosas Extragalácticas”.
Certamente, o marco teórico mais antigo, mas ainda meramente conjectural do Big Bang, pode ser encontrado um pouco antes, em 1927, na obra do astrônomo e padre belga George Lemaitre.
Mesmo que tomássemos o artigo de Hubble com o marco original do Big Bang (o que já seria um enorme exagero) ou o trabalho visionário de Lemaitre, ainda assim não chegaríamos nem perto dos tais aludidos 100 anos da Teoria do Big Bang, alegados pela AGÊNCIA FRANCE PRESS.
Portanto: Menos, senhores redatores franceses, menos!
Calmez-vous, il est l'argile sacrée ; lentement avec l'argile de la sainte! Ou seja, em bom português : devagar com o andor que o santo é de barro!

Um comentário:

  1. Parabens pelo blog! Está muito bem escrito.. como tudo oque esvreve!
    Lana

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