XI Encontro Nacional de Ensino de Química – ENEQ 2002 (UFRPE, 8 a 11 de Outubro de 2002)
A Química dos Céus: 200 Anos do Nascimento da Espectroscopia
Maria Amélia Monteiro (Escola Politécnica de Pernambuco), Alexandre Medeiros (Departamento de Física, UFRPE), Francisco Nairon Monteiro Jr (Departamento de Física, UFRPE)
Palavras Chave: Espectroscopia, Interdisciplinaridade.
Introdução
A necessidade do desenvolvimento de uma Educação em Ciências calcada em uma visão de Interdisciplinaridade tem assumido, nos últimos tempos, uma enorme importância. Dentre as principais recomendações contidas nos PCN está a necessidade de se propiciar ao educando uma educação científica mais holística, que contemple a formação do cidadão e que evite a simples especialização precoce. Na Educação Química, um dos modos mais promissores de resgatar a dimensão cultural e epistemológica na formação conceitual mais específica parece ser o recurso à história da ciência com a busca de possíveis laços existentes entre a produção do conhecimento científico e o contexto mais amplo no qual este sempre esteve envolvido1. Que exemplo maior de interdisciplinaridade poderíamos contemplar do que um estudo que unificasse o Céu e a Terra? Assim é a Espectroscopia, um campo de estudos que eleva o estudo da Química às estrelas e de lá retira informações preciosas, não apenas para conhecermos aqueles mundos distantes, mas, também, para compreendermos a nossa realidade terrena. Essa importância fica ainda mais evidenciada quando se assinala que no ano de 2002 a Espectroscopia comemora os 200 anos do seu nascimento, com os trabalhos pioneiros de William Wollaston2. Mas não bastam as motivações da Espectroscopia levantar uma rica discussão interdisciplinar, e nem mesmo de ser ela uma aniversariante de destaque neste ano corrente de 2002. Há, ainda, um outro motivo adicional e de cunho epistemológico, para enaltecer a importância de um tal estudo: a polêmica travada sobre as distintas interpretações das origens das raias espectrais no início do século XIX.
Resultados e Discussão
Os resultados deste estudo de caso histórico revelaram alguns importantes pormenores sobre os fundamentos das discordâncias interpretativas entre personagens como William Wollaston, Joseph Fraunhoffer, William Herschel e David Brewster3,4 acerca da origem das raias escuras encontradas nos espectros da luz proveniente das estrelas. O estudo revelou, ainda, como certas concepções podem ser resistentes mesmo quando evidências observacionais parecem jogar contra as mesmas. É o caso, por exemplo, das interpretações de Brewster que resistiram às evidências observacionais obtidas por Bunsen e por Kirchoff. Esse tipo de informação histórica parece-nos valioso para que possamos compreender a própria resistência de certas concepções manifestas por estudantes sobre vários tópicos científicos5. Detalhes desta discussão e dos seus desdobramentos educacionais são discutidos na apresentação deste trabalho.
Conclusões
O presente estudo evidenciou como investigações históricas podem ser úteis tanto no estabelecimento de ligações entre campos aparentemente díspares do conhecimento humano, como, também, para confrontar visões simplistas da ciência usualmente encontradas em livros didáticos e que induzem à crença em um desenvolvimento científico linear e isento, assim, de disputas interpretativas. O resgate das origens históricas da Espectroscopia possibilitou-nos exibir um cenário que pode servir de pano de fundo para que se perceba papel da crítica e das disputas como molas mestras do desenvolvimento científico. Resgatar esta polêmica é contribuir para a formação de uma visão de ciência mais sofisticada, que se afaste da linearidade de certas descrições históricas usuais. Por todos esses motivos, um resgate do nascimento da Espectroscopia oferece-se como um valioso contributo educacional na construção de uma Educação Química que reflita o seu presente baseado em uma investigação crítica da história da ciência.
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1 Filgueras, C. Química Nova na Escola. 2001, 24, 5, 709-712.
2 Wollaston, W. Philosophical Transactions of the Royal Society. 1802, 92, 365.
3 Brewster, D. Philosophical Magazine, 1836, 8, 384.
4 Brewster, D. & Gladstone, J. Philosophical Transactions of the Royal Society. 1860, 150, 149.
4 Pine, K., Messer, D. & St John, K. Research in Science & Technological Education. 2001, 19, 1, 79-96.
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