Alexandre Medeiros
“CAUSOS” DE PROFESSORES
O Que Importa é a Derivada Segunda
Esse é mais um daqueles meus “causos” de professores.
O Fulaninho era professor de Matemática do ensino médio. Ele havia terminado a sua licenciatura recentemente e sonhava em lecionar na Universidade. Não perdia uma oportunidade para tentar se mostrar um cara diferenciado dos demais colegas, quem sabe mais talentoso do que eles. Certo dia, ele e o Beltrano, um grande amigo professor de Física, vêm até ao meu gabinete bater um papo.
O Fulaninho logo começa a comentar o fato de que o nível dos novos alunos de Matemática estava cada vez pior. Apesar de recém-formado, ele já se via como um autêntico veterano:
– Olha! Eu acho que esses novos professores que estão sendo formados em Matemática pela Universidade são muito fracos.
Eu ouço o comentário e sou forçado, em parte, a concordar, mas lhe pergunto logo por uma solução:
– Tudo bem, Fulaninho, mas e qual seria a solução para esse problema?
– Eu acho que se deveria exigir muito mais no vestibular. Comigo só entrava quem já soubesse até derivada e integral.
– Mas, Fulaninho, você não acha isso exigir demais, dadas as condições atuais do nosso ensino médio?
Eu digo isso e me lembrando, na mesma hora, de que o Fulaninho não havia sido um estudante assim tão exemplar, devolvo-lhe a questão:
– Mas, Fulaninho, na época que você entrou na Universidade, o exame vestibular foi assim tão exigente?
– Não, não foi, mas eu me virei depois. Eu sempre estudei muito.
– E, por que os outros não podem fazer o mesmo? (pergunto eu)
– Eu acho que hoje em dia a turma não quer mais estudar.
– Pois eu estou achando você com cara do Bolinha, aquele mesmo do clubinho. É passa e fecha a porta.
Nisso, o Beltrano entra no papo:
É, Fulano! Eu acho que as pessoas devem ter certamente um patamar mínimo de conhecimentos para poderem entrar na Universidade, mas não precisam entrar já sabendo de tudo.
– Pois, eu não acho! (Insiste o Fulano). Comigo só entrava quem já fosse bom mesmo. De que adianta entrar e ficar ali parado? O cara tem que já ter uma velocidade inicial, um V0. Sem esse V0, comigo não teria acordo.
– Isso não lhe parece uma atitude um pouco elitista, Fulaninho? (Argumenta o Beltrano).
– Absolutamente! Eu insisto que é preciso ter um certo V0. É preciso já ser bom em Matemática, entender bem, por exemplo, os conceitos do Cálculo.
Eu olho para o Fulaninho e digo:
– Pois, olha Fulaninho! Eu acho que o que importa ao entrar na Universidade não é o tal V0 de que você fala; para mim, o que importa não é a derivada primeira, mas sim a derivada segunda.
O Fulaninho olha para mim com uma cara de espanto e me diz, sem a menor cerimônia:
– Como, assim? Essa eu não entendi!
Oh, Fulaninho! O que importa não é a velocidade com que o cara chega à Universidade; é a aceleração, sacou? É a sua disposição de trabalho para aprender o que não sabe ainda. Sacou, agora?
– Tudo bem, isso eu entendi. É que você falou na derivada segunda.
– Isso, Fulaninho! Eu falei em termos metafóricos, usando a linguagem matemática e por isso você não sacou logo. Mas, não se preocupe! Eu não vou querer excluí-lo da Universidade só por isso. Para mim, você ainda tem jeito. Para mim, o que importa é a sua derivada segunda!
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