Alexandre Medeiros (PhD, University of Leeds – Professor de Física e Astronomia, UFRPE)
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FÍSICA
O Termômetro Clínico de Sanctorius
Em 1612, Sanctorius Sanctorius (1561-1636), um médico e professor da Universidade de Pádua, modificou o antigo instrumento grego, ou mais provavelmente adaptou o instrumento do seu colega Galileu com a finalidade específica de avaliar com maior precisão a temperatura do corpo humano. Seu aparelho, primeiro termoscópio clínico de que se tem notícia, consistia de um tubo de vidro comprido e estreito, em forma de serpentina, com uma pequena esfera oca fechando uma extremidade.
A extremidade livre do tubo era imersa num vaso d'água. O aquecimento e o posterior resfriamento da esfera faziam com que a água subisse pelo tubo de vidro. A esfera era então colocada dentro da boca do paciente. O calor do corpo provocava a dilatação térmica do ar contido na esfera fazendo variar o nível da água no tubo.
Isso fornecia uma avaliação, ainda que grosseira, da temperatura do paciente. Para melhorar a precisão do instrumento, o tubo era graduado com pequenas contas de vidro, colocadas em intervalos arbitrários iguais entre dois pontos fixos previamente determinados. Tais pontos eram correspondentes às temperaturas da aplicação da bolinha à neve e à chama de uma vela. Era, sem dúvida, um instrumento rudimentar, mas que já continha a idéia da necessidade de pontos fixos, relacionados às temperaturas presumivelmente constantes e reprodutíveis, necessárias para a sua graduação.
Como o seu funcionamento estava ainda baseado na dilatação do ar, que era a sua substância termométrica, tratava-se de um aparelho muito sensível, apesar de impreciso, que reagia visivelmente a pequenas variações de temperatura, como seria de se esperar de um termoscópio clínico.
A imprecisão com que era construído, no entanto, tornava cada termoscópio deste tipo, um exemplar único e diferente dos demais. Suas marcações não coincidiam entre si e deste modo cada um deles necessitava de uma graduação específica.
Além disso, por ter uma das extremidades abertas, as marcações fornecidas por um mesmo termoscópio de Sanctorius variavam com o tempo, pois eram sensíveis à influência da pressão atmosférica. Esse fato tornava a escala ainda mais imprecisa.
Ainda assim, Sanctorius estabeleceu em seu termoscópio as marcas que correspondiam aos graus de calor aproximados relacionados com o estado de saúde do corpo humano, assim como as flutuações do temperamento do calor, ou temperatura, durante os estados febris. Antes de Sanctorius, as avaliações dos estados febris eram meramente qualitativas.
Ainda que seu instrumento possa parecer-nos, hoje, como extremamente tosco, constituiu-se à época num enorme avanço na medicina que incorporava novas concepções teóricas como, por exemplo, a necessidade de pontos fixos para a sua graduação.
Embora a data de 1612 seja costumeiramente mencionada como a da invenção, por Sanctorius, do seu termoscópio clínico, a primeira referência escrita ao mesmo só veio a aparecer em sua obra de 1626 intitulada Commentaria in Artem Medicinalem Galeni. Marcando a forte influência aristotélica àquela época, a referência ao instrumento feita por Sanctorius, aparece apenas num comentário escrito em tal obra sobre os trabalhos do médico árabe e aristotélico medieval, Avicenna.
Próximo texto desta série: Problemas com os Primeiros Termoscópios
PARA CITAR ESTA FONTE: Medeiros, Alexandre. O Termômetro Clínico de Sanctorius. Física e Astronomia_Alexandre Medeiros, BLOG.
http://alexandremedeirosfisicaastronomia.blogspot.com/2011/10/o-termometro-clinico-de-sanctorius.html. Acessado em 20 de Outubro de 2011. (atualizar a data)
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