Alexandre Medeiros (PhD, University of Leeds - Professor de Física e Astronomia, UFRPE)
“CAUSOS” DE PROFESSORES
William Bragg e seu Conselho ao estudante de PhD em Física
Esse “causo” vem de longe. Ele me foi contado pelo meu ex-orientador, na época em que eu fazia o meu PhD na Inglaterra. Ele, quando jovem, havia conhecido Sir William Lawrence Bragg (1890-1971), já bem velhinho. O Bragg era aquele mesmo que na juventude, havia recebido o premio Nobel de Física de 1915 em conjunto com o seu pai, William Henry Bragg, pelo estudo da difração de raios X.
Contava o meu orientador que o Bragg era um cara divertido e solidário com todos. Ele sempre dava bons conselhos aos seus alunos, orientando os mesmos nas soluções dos seus problemas. E essa é uma qualidade que todo bom estudante aprecia. Aliás, quase todo estudante de Física aprende desde cedo, quem é que está, de fato, tentando ajudá-lo e quem é que está apenas enrolando, apenas dando porre, fingindo que está dando o maior bizu, a maior dica.
Tem aqueles professores, por exemplo, que você chega com um baita problemão e pede uma ajuda. Ele olha e diz com aquela cara de enrolado ou fingido, algo assim: “eu acho que isso dai só sai por série de Laurent”, ou coisas semelhantes. O estudante, logo aprende que geralmente, a solução do problema não tem nenhuma relação com a tal preciosa “dica” e que qualquer semelhança, tal qual em filme americano, é mera coincidência.
Pois bem, voltando ao nosso “causo” inglês. Um belo dia um estudante de Física, iniciando o seu PhD, vai até o gabinete do Professor Bragg e pede a ele um conselho, uma orientação:
– “Professor, eu gostaria de lhe mostrar o problema que eu estou tentando resolver na minha pesquisa”.
O Bragg levanta os olhos pacientemente e ouve atentamente a exposição do estudante. Ao final dela o rapaz lhe diz:
– “Então, professor, eu estou tentando resolver o problema dessa maneira. O senhor acha que vai dar certo?”
Bragg olha atentamente o problema mais uma vez e responde de forma calma e suave:
“Eu acho que não! Acho que vai dar errado. Assim é impossível”.
O estudante, que havia procurado o Bragg mais para se exibir do que propriamente para lhe pedir um conselho, fica surpreso e ao mesmo tempo preocupado. Ele, de imediato, volta à carga:
– “Mas, professor, então, de que maneira o senhor acha que eu deveria tentar resolver esse problema? O senhor poderia me sugerir alguma forma de resolvê-lo?”
Bragg olha e responde de imediato:
– “Tente fazer dessa maneira, mesmo”.
O estudante ouve aquilo estupefato e argumenta:
“Mas, professor, eu não estou entendendo mais nada. Eu acabei de lhe mostrar essa maneira de tentar resolver o problema e pedi a sua opinião se isso poderia dar certo e o senhor me respondeu que não; que achava impossível. Eu, agora, lhe pergunto como tentar resolver o problema e o senhor me recomenda exatamente para insistir no modo que havia dito ser impossível?”
Bragg olha para o rapaz e lhe responde candidamente:
“Meu jovem, quando um velho cientista, como eu, lhe disser que alguma coisa é possível, acredite nele, afinal ele é um velho cientista. Mas, quando ele lhe disser que algo é impossível, não acredite nele. Afinal, ele já é um cientista velho”.
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