terça-feira, 4 de outubro de 2011

Tsunami no Brasil: Alarmismo em Diálogo

Alexandre Medeiros (PhD, University of Leeds - Professor de Física e Astronomia, UFRPE)

Estamos próximos de uma catástrofe natural?
É possível haver um Tsunami por esses dias nas costas do Brasil?
Esse tema surgiu muito recentemente e repercutiu na imprensa sensacionalista. Tenho um grande e dileto amigo de infância, cientista competente, mas um pouco atordoado, que acredita piamente na vinda desse danado. Eu não! Sou mesmo um cético. E acho que tenho boas razões para agir assim.
Pensei, então, em escrever algo sobre o assunto e o fiz no tom de uma divertida conversa, pretensamente esclarecedora, pois a brincadeira ficou apenas no estilo da narrativa. Os argumentos científicos aqui expostos são sérios e estão alinhados da forma mais didática que me ocorreu. Vamos, portanto, ao nosso “papo”.
O que diriam dois cientistas, um ALARMISTA e um CAUTELOSO acompanhados por um LEIGO inteligente sobre esse suposto TSUNAMI que alguns acham que se avizinha das praias do Brasil?
LEIGO: Estamos próximos de um novo TSUNAMI?
ALARMISTA: Sim, com certeza. E ele vai atingir o Brasil. Já estou até vendo a onda chegando em Boa Viiagem e destruindo o calçadão, engolindo os prédios, subindo a Serra das Russas, comendo Gravatá, avançando por Caruaru...
CAUTELOSO: Calma!
ALARMISTA: Como, calma, homem? Afinal, você acha que um TSUNAMI pode ou não pode atingir o Brasil?
CAUTELOSO: Pode ser que sim, mas ainda não sabemos nem ao menos se ele vai acontecer e muito menos em que proporções isso poderia vir a ocorrer.
ALARMISTA: Como não sabemos? Sabemos sim! Nós somos cientistas ou não somos? O vulcão está lá na Ilha Canárias, no meio do Oceano Atlântico, doido para explodir. E ele é enorme. E a parede dele pode deslizar para o oceano. E se isso acontecer, será uma gigantesca massa de terra, do tamanho da ilha inglesa de Man, a adentrar o mar. E isso, com certeza provocará um enorme Tsunami. E ele tem de chegar ao Brasil. Aliás, ele vai chegar, eu sei disso. Ja estou até ouvindo o barulho da onda ...
CAUTELOSO: Calma!
ALARMISTA: Calma, como homem de Deus?
Vamos fugir!
Deste lugar, Baby!
Vamos fugir
Tô cansado de esperar
Que um TSUNAMI me carregue...
CAUTELOSO: Calma, mesmo! Você andou ouvindo muitas músicas do Gilberto Gil e dando ouvido aos geofísicos baianos que andaram plantando esse boato.
LEIGO: Espere ai! Então, como surgiu essa tal notícia que realmente repercutiu como um verdadeiro TSUNAMI?
CAUTELOSO: Muito bem, meu leigo amigo. Você está certíssimo. ESSA NOTÍCIA é que realmente está virando um TSUNAMI. Ela está realmente ganhando energia ao ser repercutida pelos alarmistas. Risos ...
LEIGO: Mas, vamos aos fatos: sabemos que há, de fato, um enorme VULCÃO nas ilhas Canárias, em pleno Oceano Atlântico. E que a sua parede Norte pode realmente deslizar em direção ao mar em uma possível erupção de GRANDES PROPORÇÕES. Não é verdade?
CAUTELOSO: É!
LEIGO: Então, o nosso amigo ALARMISTA está certo.
CAUTELOSO: Não necessariamente! Você mesmo assinalou que a parede que está ameaçada de desabar é a parede Norte. E ainda há muitos outros fatores em jogo.
ALARMISTA: Mas, essa tal erupção de GRANDES PROPORÇÕES está sendo prevista pelos geofísicos espanhóis. Eu lhe enviei ontem mesmo uma matéria sobre isso.
CAUTELOSO: Não é verdade. A matéria que você me enviou não dizia exatamente isso. E muito menos que haveria um TSUNAMI no Brasil.
ALARMISTA: E ela dizia o que?
CAUTELOSO: Você não leu a matéria que me enviou? Ela dizia que está sendo prevista uma ERUPÇÃO DE BAIXAS PROPORÇÕES e que mesmo no caso IMPROVÁVEL de haver uma de GRANDES PROPORÇÕES o TSUNAMI atingiria Portugal e a costa Leste dos Estados Unidos.
LEIGO: Quer dizer então que as instituições de pesquisa espanholas não estão prevendo uma grande erupção desse tal vulcão?
CAUTELOSO: Isso! NÃO estão, mesmo! Absolutamente, NÃO! O que tem sido previsto, até o momento, é apenas a possibiidade de uma erupção de pequenas proporções. Não sou eu quem diz isso, são as instituições de pesquisa espanholas que acompanham de perto o possível evento. E que previram isso na matéria que o nosso amigo ALARMISTA me enviou ontem mesmo. Risos ...
ALARMISTA: Espere aí. Mas, se a tal erupção de fato ocorrer e ocasionar o deslizamento da referida parede em direção ao Oceano Atlântico? Neste caso, não tem necessariamente de haver um TSUNAMI?
CAUTELOSO: NÃO! Depende.
LEIGO: Depende de que?
CAUTELOSO: Depende de vários fatores. Depende, por exemplo, da massa de terra e de rochas que deslizar para o mar. Depende também da ...
ALARMISTA: Olhe aí! Eu não disse? Ele está me dando razão! A matéria que eu lhe enviei dizia que a massa de rochas que pode deslizar é imensa. Que pode atingir o tamanho da ilha inglesa de Man. E agora?
CAUTELOSO: Você cortou o meu raciocínio. Eu ainda ia falar de outros fatores, mas tudo bem! Como você pode afirmar que vai, ao menos, haver o tal deslizamento de rochas para o mar? E em que proporções ele irá acontecer? Se acontecer.
LEIGO: No caso de haver uma erupção de pequeno porte, como a estão prevendo, o que pode ocorrer?
CAUTELOSO: Neste caso, é altamente improvável ocorrer um grande deslizamento de terra e rochas em direção ao mar. Os efeitos seriam perigosos, mas meramente locais.
ALARMISTA: OK, mas vamos imaginar uma erupção das grandes. Afinal, ela também pode acontecer, não pode?
CAUTELOSO: Pode, mas não é isso que está previsto, eu insisto. Mas, mesmo neste caso, há outros fatores em jogo.
ALARMISTA: Para mim isso já basta. Supondo que uma massa enorme de terra e rochas deslizasse para o mar seriam formadas ondas gigantescas que atingiriam a costa do Brasil.
CAUTELOSO: CALMA! Você está dando três passos de cada vez, nem são dois. Risos ...
LEIGO: Não entendi! O que o nosso amigo ALARMISTA disse  de errado?
CAUTELOSO: É que mesmo imaginando que possa ocorrer o tal deslizamento de grandes proporções; com a tal massa de terra e rochas equivalente à da ilha de Man, ainda temos de considerar a velocidade com que tal deslizamento ocorrerá. Deslizar de forma suave é uma coisa e deslizar de forma repentina e em alta velocidade é algo totalmente diferente.
ALARMISTA: Espere aí. Nós sabemos que no Havaí já houve acontecimentos assim e que o deslizamento foi violento e repentino e que isso causou um TSUNAMI na costa do Japão. E as ilhas Canárias ficam sobre uma fronteira entre placas tectônicas ...
CAUTELOSO: Isso, mesmo. Mas, o Havaí é um caso muito diferente, pois ele fica bem no meio de uma placa tectônica.
LEIGO: Agora, eu sobrei. Se o Havaí fica no meio de uma placa tectônica e não nas suas bordas, então como fica aquele papo de uma placa atritar-se junto à outra ou mergulhar sobre ela. Aquele papo de .. Como é mesmo aquele nome complicado que vocês gostam de falar?
ALARMISTA: Subducção, meu amigo! SUBDUCÇÃO. Não é nada complicado. É que você é apenas um leigo. Isso significa apenas que uma placa mergulha sob a outra empurrando-a para cima, liberando  grande quantidade de energia graças aos tremendos movimentos tectônicos que se manifestam como terremotos ou vulcanismo. Risos ...
LEIGO: Mas, então, como eu estava dizendo, se o Havaí fica em meio a uma placa tectônica, ele não deveria apreentar esse tais eventos.
CAUTELOSO: Muito bem! E por isso mesmo, a origem do vulcanismo no Havaí é realmente completamente diferente da que ocorre nas ilhas Canárias. O Havaí fica sobre um "HOT SPOT", ou seja sobre um "PONTO QUENTE" que provoca o tal vulcanismo;
LEIGO: O que diabo é esse tal de "PONTO QUENTE"?
ALARMISTA: É uma espécie de um gigantesco bolsão de magma que fica sob a crosta terrestre e que exerce uma pressão ascensional ...
LEIGO: O que?
ALARMISTA: Ascensional, meu amigo, quer dizer uma pressão para cima . Você nunca estudou Geomorfologia?
LEIGO: Não! Estudei Geografia na Escola, mas não me lembro se o meu professor falou nisso.
ALARMISTA: Deve ter falado, mas você devia ser um desses alunos indiciplinados que habitam as nossas salas de aula, que não prestam atenção no que a gente ensina e que ...
CAUTELOSO: Calma! Menos com o menino. Ele só não sabia o que era um HOT SPOT.
LEIGO: Tudo bem, deixa prá lá! Eu já percebi que o nosso amigo professor ALARMISTA é adepto da linha dura na sala de aula, mas o papo aqui é outro. O que é que esse tal de HOT SPOT tem a ver com os tais vulcões no Havaí e com aquele negócio que o senhor falou de movimento ascensorial?
ALARMISTA: Você quer dizer ASCENSIONAL, para cima. Risos ...
CAUTELOSO: Deixe eu tentar simplificar para o nosso amigo LEIGO compreender melhor. Não adianta ficar dando esporro nele. Acho melhor a gente explicar a ele. A coisa funciona como o tumor na nossa pele. Tem uma bolsão de puz e que vai exercendo uma pressão até estourar. Um HOT SPOT é como um furúnculo na Terra, Sacou? Só que um furúnculo de magma, de rochas incendescenetes. E a pressão exercida devido à alta temperatira faz com que ele REPENTINAMNTE exploda para cima, furando a crosta e erguendo-se como um vulcão. Mas, o que nos nos importa é que esse mecanismo é muito diferente do que ocorre nas ilhas Canárias, onde o que existe é uma fronteira de placas tectônicas.
LEIGO: Diferente em que sentido?
CAUTELOSO: Diferente em quase tudo. Os HOT SPOTS, por exemplo, não estão exatamenente sob a ilha do Havaí. Eles estão fixos abaixo da crosta que desliza sobre ele. Com o movimento da placa tectônica como um todo, ela vai sendo furada em lugares sucessivos à proporção que desliza vagarosamente sobre o tal HOT SPOT. Daí porque o Havaí tem aquele formato caracteristico de uma tripinha de ilhas, uma após a outra.
LEIGO: Que interessante! E o que é que isso tem a ver com o caso das ilhas Canárias? Com esse tal TSUNAMI que o nosso amigo ALARMISTA aqui ao lado, diz que vai atingir o Brasil?
CAUTELOSO: NADA!
LEIGO: Então, para que esse papo?
CAUTELOSO: Porque erupções em HOT SPOTS são muito diferentes de erupções em zonas de acomodação entre placas tectônicas como a que ocorre sob as Canárias. E por isso, a comparação que ele quer fazer não vale. Ali não tem HOT SPOT algum para explodir repentinamente e nem ao menos subducção existe.
LEIGO: Sobrei! Como não há subducação? Não é uma fronteira entre placas tectônicas?
CAUTELOSO: É! Mas, em uma fronteira entre placas tectônicas, há três coisas diferentes que podem ocorrer.
LEIGO: O que?
ALARMISTA: Você devia ser mesmo muito indisciplinadao em suas aulas de Geografia, não é? Não prestava atenção em nada. O que está faltando hoje é disciplina nas salas de aula. No meus bons tempos era na porrada. Ali o cara aprendia mesmo. Era aprender ou morrer. Era ordem unida, gente fardada, cantando hino. Há meus bons tempos de escola. "Que amor, que sonhos que flores; naquelas tardes fagueiras, à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais". Risos ...
LEIGO: Arreda Capeta! Que nóia! Sai prá lá Cassimiro de Abreu.
ALARMISTA: O que foi que você disse?
LEIGO: Nada, professor. Desculpe, pode continuar. Risos ...
ALARMISTA: Pois bem, como eu ensino em Geomorfologia na Universidade, na fronteira entre duas placas tectônicas podem ocorrer três coisas diferentes: primeiro, pode ocorrer uma colisão frontal dessas placas e neste caso uma literalmente mergulha sob a outra levantado-a. É a tal da subducção que nós falamos e que você havia se esquecido porque era com certeza um aluno muito indisciplinado. O grande problema da Educação hoje não é nem o salário baixo dos professores, é a falta de disciplina. Mas, voltemos ao nosso assunto: Neste primeiro caso, temos terremotos e vulcanismo provocados pelo atrito e pela elevação e aquecimento das rochas. É o caso típico que ocorre no Chile e que formou a cordilheira dos Andes.
CAUTELOSO. É o caso também da Cordilheira do Himalaia que foi igualmente formada por um processo de subducçção. Nessas áreas de subducçção, o vulcanismo pode ser súbito e intenso, assim como nos HOT SPOTS. Podemos ter explosões repentinas e muito violentas.
LEIGO: E os outros dois modos das placas tectônicas se encontrarem?
ALARMISTA: Não se lembra de nada, não é? Se tivesse sido meu aluno eu teria lhe colocado nos eixos.
CAUTELOSO: Deixa o menino, cara! Eu mesmo sempre fui um aluno indisciplinado e acho que ainda me recordo de um bocado de coisas. Não vejo que esse problema de indisciplina nas salas de aula seja tão grande assim. Mas, vamos voltar ao que ele perguntou, caso contrário o seu TSUNAMI chega e a gente não termina esse papo. Risos ...
ALARMISTA: Gostei que você agora admitiu que o meu TSUNAMI vai chegar. Risos ...
CAUTELOSO: Calma no Brasil. Eu estava apenas brincando para você relaxar e largar o pé do menino. Eu não acredito absolutamente nesse seu TSUNAMI no Brasil. Você sabe que eu acho isso puro alarmismo.
LEIGO: Mas, e os outros dois modos das placas ...
ALARMISTA: Bem, elas podem deslizar uma ao lado da outra e esse atrito geralmente se dá aos saltos.
LEIGO: Por que aos saltos? Por que não escorregam de modo contínuo e suave?
CAUTELOSO: Porque as rochas engancham umas nas outras em alguns pontos subterrâneos. Mas, o problema é que a pressão para elas se movimentarem continua sendo exercida sobre as placas.
LEIGO: Quem exerce essa tal pressão?
ALARMISTA: As placas tectônicas são como gigantescas jangadas de pedra flutuando sobre um mar de magma, de rocha derretida e em altíssima temperatura.
LEIGO: Sim, isso eu já sabia. Mas de onde vêm as tais forças que fazem essas pesadas placas  se movimentar?
CAUTELOSO: Vêm das correntes de convecção existentes no magma e possivelmente provocadas pelas diferenças de temperatura existentes nesse próprio magma.
LEIGO: E de onde vem o calor que aquece esse magma de forma diferenciada?
CAUTELOSO: Você já está chegando no limite do nosso conhecimento sobre o interior da Terra. Nós supomos que o interior da Terra seja rico em materiais radioativos e que a decomposição radioativa deve ser a sua principal fonte de calor.
LEIGO: E qual é o terceiro modo das placas se comportarem em suas fronteiras? Elas também podem se separar entre si?
CAUTELOSO: Isso, mesmo! Elas podem se afastar uma da outra e neste caso é como se a crosta estivesse se rasgando.
LEIGO: Então nesse caso não ocorre a tal da subducção que o professor aqui falou, nao é?
ALARMISTA: Claro! Elementar, caro Watson! Se elas estão se afastando uma da outra ...
CAUTELOSO: E é exatamente isso o que ocorre nas ilhas Canárias, pois elas ficam situadas exatamente no caminho da enorme Dorsal Atlântica.
LEIGO: O que é isso?
ALARMISTA: O seu professor de Geografia não lhe ensinou isso?
LEIGO (sorrindo): Deve ter ensinado, professor, mas como o senhor mesmo falou, eu era indisciplinado e por isso não me lembro. Risos ...
ALARMISTA. Logo vi! Mas, o que importa é que é esse afastamento rasga a crosta terrestre e por essa abertura o magma consegue aflorar ao leito oceânico formando assim uma cordilheira submarina de montanhas, que é exatamente essa tal Dorsal Atlântica que o meu  CAUTELOSO amigo falou.
LEIGO: Quer dizer que as ilhas Canárias são como a ponta de gigantescas montanhas?
ALARMISTA: Isso! Isso, mesmo! GIGANTESCAS MONTANHAS VULCÂNICAS e que estão prestes a explodir e a desencadear um imenso TSUNAMI que vai arrasar o globo e destruir o litoral do Brasil e a minha querida e saudosa Casa Amarela. Oh! Como eu queria evitar esse desatre em Casa Amarela. Há, se eu pudesse entrar numa máquina do tempo e voltar ao meu querido e perfeito passado em Casa Amarela.
CAUTELOSO: Acorde cara! Você está em 2011 e não vai haver nenhum TSUNAMI GIGANTESCO para varrer a sua Casa Amarela de sua infância querida. De onde você tirou mesmo essa ideia, me perdoe ... ?
LEIGO: MALUCA!
CAUTELOSO: Bem, eu não queria usar essa palavra.
ALARMISTA: Está vendo o que você fez? Além de não querer avisar a população do perigo iminente que nos ronda, ainda incentivou a indisciplina desse rapaz insolente. Gente de esquerda como você, anarquistas como você, só promovem a indisciplina. Mas, no dia do juizo final que já se aproxima, o meu querido TSUNAMI vai VARRER toda essa indisciplina e corrupção que assola o nosso pais. Serão águas purificadoras enviadas ..
CAUTELOSO: Ei, rapaz! Você está se sentindo bem? Quer um copo de água?
ALARMISTA: Ele virá! Ele virá no topo do MEU TSUNAMI surfando triunfalmente em cima de uma prancha de surf e com sua VASSOURA na mão.
LEIGO: O que foi que ele disse, professor? Eu não entendi nada.
CAUTELOSO: Nada! Ele deve estar apenas sonhando com a figura messiânica do seu ídolo, o ex-presidente JÂNIO QUADROS surfando em uma prancha de surf no alto do TSUNAMI dele. Pode deixar quieto que ele se acalma logo. Ele é assim mesmo, meio elétrico, mas é gente fina.
ALARMISTA: Onde nós estavamos?
LEIGO: Surfando no topo de um TSUNAMI que vem VARRER o BRASIL de toda a corrupção nele existente. E também da indisciplina dos alunos, também, claro.
ALARMISTA: Não me lembro dessa última parte.
LEIGO: É parece que a corrupção é mais fácil de se combater do que a indisciplina nas salas de aula.
ALARMISTA: Isso! É isso, mesmo.
LEIGO: Dá para a gente aterrissar um pouquinho o disco voador, desligar esse liquidificador e voltar a falar do tal TSUNAMI?
CAUTELOSO: Bem, como eu estava dizendo desde o início, mesmo que essa montanha deslize, nós não sabemos se ela vai deslizar com velocidade suficiente para gerar o tal TSUNAMI do nosso amigo. É preciso haver uma gigantesca erupção para gerar esse tal deslizamnento que ele supõe. E isso talvez fosse mais fácil de ocorrer em uma área de HOT SPOT, como no Havaí, ou em uma zona de subducção como ele mesmo explicou, nos Andes. Mas, em uma área de afastamento de placas, as tensões são aliviadas constantemente pelo afloramento contínuo do magma. Explosões súbitas, nessas regiões, são possíveis, mas muito menos prováveis.
ALARMISTA (arregalando os olhos): Mas, e se deslizar? Se houver uma erupção súbita? Uma ERUPÇÃO GIGANTESCA? INFERNAL?
CAUTELOSO: Bem, se a erupção for mesmo infernal, pode ser que o capeta saia realmente voando em cima da tal vassoura agora transformada em prancha de surf e venha mesmo para cá "varrer tanta infâmia e covardia".
ALARMISTA: "Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, 
Que impudente na gávea tripudia? 
Silêncio.  Musa... chora, e chora tanto 
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... 
Auriverde pendão de minha terra, 
Que a brisa do Brasil beija e balança, 
Estandarte que a luz do sol encerra 
E as promessas divinas da esperança... 
Tu que, da liberdade após a guerra, 
Foste hasteado dos heróis na lança 
Antes te houvessem roto na batalha, 
Que servires a um povo de mortalha!... 
Fatalidade atroz que a mente esmaga! 
Extingue nesta hora o brigue imundo 
O trilho que Colombo abriu nas vagas, 
Como um íris no pélago profundo! 
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga 
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! 
Andrada! arranca esse pendão dos ares! 
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
LEIGO: Professor. Ele tá gira?
CAUTELOSO: Não! Ele apenas pegou o meu mote do "Navio Negreiros", do Castro Alves. Ele gosta muto do Castro Alves e eu também.
ALARMISTA: É isso, companheiro! Ele vai chegar!
"Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias
Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá ..."
LEIGO: Vixe Maria, que agora o homem incorporou o Caetano Veloso no couro. E eu acho que trocou o TSUNAMI por algum METEORO.
ALARMISTA: Meteoro, não! Meteorito ou então um Asteróide! Meteoro é apenas o brilho, o fenômeno luminoso riscando o Céu em direção à Terra. Isso vem de Aristóteles. Meteorito é quando o bólido atinge a superfície terrestre a pode causar um CATACLISMA.  Foi assim com os DINOSSAUROS. Tenha sido ele um Meteorito ou um grande asteróide. E o que não faltam são Dinossauros nas nossas Universidades. E dinossauros jovens, que é muito pior. É isso! E dinossauros de esquerda. Mas, o asteróide vai acabar com eles.
LEIGO: Vai ser um TSUNAMI ou um METEORITO? Ou um ASTERÓIDE?
ALARMISTA: Pode ser qualquer um, isso pouco importa. Mas, pode ser também um asteroide. Isso! Pode ser um asteróide.
CAUTELOSO: Bem, meu amigo, se cair realmente um baita meteorito ou mesmo um ASTERÓIDE desses de bom tamanho e que cruzam o órbita do nosso planeta, pode ser que você ganhe mesmo o seu BAITA TSUNAMI. Mas, essa possibilidade é ainda mais remota. MUITO mais remota, ao menos na nossa presente geração.
ALARMISTA: Mas, tem um asteróide dos grandes se aproximando da Terra, você sabe disso. Você até escreveu sobre isso recentemente. E naquele momento eu fiquei animado; eu senti que você havia se convertido para a coisa DIREITA, que  iríamos destroçar tudo, mesmo. Mas, então você recuou. Foi uma atitude realmente anárquica de sua parte. Deu o desejo da catástrofe, sem dar o direito. Aquele Asteróide era nosso. Era uma coisa celestial. E ele está no Céu, nós sabemos disso. Nós sabemos o seu nome. O SEU NOME É ...
LEIGO: Quem é ele, professor. Qual é nome dele?
CAUTELOSO: Eu acho que ele agora está sonhando com aquela outra figura messiânica de barba escura e que gritava na TV: O MEU NOME É ENÉAS!
ALARMISTA: Isso! É ele mesmo! É o ENÉAS. Ele vai voltar!
LEIGO: Puxa vida! Nós tamos ferrados, mesmo. Ele acha que o Jânio vai voltar surfando no alto de um Tsunami e agora vem também o Enéas na cabeça de um Asteróide. Assim, não dá prá ser feliz.
CAUTELOSO: Mas, meu amigo, só mesmo se o seu asteróide cair no Occeano para gerar esse seu tão esperado TSUNAMI. E o asteróide que vai passar agora aqui perto, o Eneas nunca se submeteria a vir nele.
ALARMISTA: Por que não? É preciso restaurar a ordem natural das coisas. É preciso restaurar a disciplina perdida. ANAUÊ! Ou se restaura a moralidade pública ou que todos nós nos locupletemos juntos, já dizia o meu grande e querido Jânio.
CAUTELOSO: Corta essa! Esse papo quem inventou foi o Stanislaw Ponte Preta, de pura gozação. O Jânio gostou e ficou para ele. Mas, o Enéas nunca voltaria nesse asteróide que agora se avizinha com o seu discurso falso-moralista.
ALARMISTA: Por que não? Você tem alguma razão física para isso?
CAUTELOSO: O nome desse asteróide é EROS. Você acha que o Enéas viria em um asteróide erótico?
ALARMISTA: NÃO! Nunca! Isso jamais! Asteróide erórico não serve para os nossos propósitos moralizadores da boa ordem. É preciso restaurar a moral e os velhos costumes. Tudo tem de voltar a ser como era antigamente. Neste caso, eu prefiro mesmo o meu TSUNAMI do vulcão.
CAUTELOSO: Mas, nós já vimos que esse é bastante improvável. Mesmo que ocorra uma grande erupção e que surja um deslizamento súbito da face da montanha; a face que poderá  vir a escorregar é a face norte; eu já lhe disse. E mesmo neste caso, altamente improvável, os atingidos seriam Portugal e a costa leste dos Estados Unidos. Isso está lá naquela notícia que você me enviou ontem.
ALARMISTA: Não! NUNCA! As ondas são circulares. Você é físico e sabe disso. Elas se espalham em todas as direções. Vamos ser atingidos, sim! Eu quero o meu TSUNAMI.
CAUTELOSO: Mas, meu amigo. Eu não quero decepcioná-lo. Eu sei como essa catástrofe é algo importante para você; que ela lavaria a sua alma, varreria os políticos corruptos, acabaria com a indisciplina nas salas de aula; mas, convenhamos, ela está difícil de acontecer. A parede do vulcão que pode deslizar é aquela que está voltada para o Norte e nesse caso, as ondas serão voltadas  também naquela direção, pois o próprio corpo da ilha absorverá a propagação na direção contrária. Não tem jeito! Você vai tem de afundar a ilha inteira para conseguir o seu TSUNAMI no Brasil.
ALARMISTA:  Pois que assim seja! Que afunde a ilha inteira. Que ela caia direto em seu abismo sepulcral. Mas, não me negue o meu TSUNAMI. Você é um cético! Anarqusitas são todos uns céticos! Ateus também são céiticos! Você é pior; é anarquista e ateu. Não acredita nos designios divinos do meu TSUNAMI redentor. Eu já lhe avisei que estou me convertendo ao fundamentalismo religioso e acho que com esse seu ceticismo você vai terminar ardendo no fogo do inferno. Nem o spray Mata Capeta do $ilas Malafaia lhe salvará. CONVERTASSE irmão! Aceite o meu TSUNAMI!



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