segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Os Estudantes e a Falta das Citações

Alexandre Medeiros

“CAUSOS” DE PROFESSORES


Os Estudantes e a Falta das Citações

Este “causo” aconteceu durante uma aula da disciplina de Metodologia da Pesquisa em Educação em Ciências. Era uma disciplina de Mestrado e eu falava para os meus alunos sobre a importância de um pesquisador conhecer os principais autores da sua área e também sobre a importância de mencionar e citar devidamente as fontes de estudo. Disse isso e me virei para um dos estudantes, o Fulano.

Você, Fulano, poderia , por favor, mencionar alguns nomes de artigos ou de livros na sua área de pesquisa que tenha lido ultimamente?

– Tem aquele dos modelos mentais professor. Como é o nome? Aquele que o senhor falou que era interessante?

– Quem perguntou o nome do texto fui eu, Fulano.

– O senhor sabe qual é. É aquele que fala que a dimensão semiótica ... Como é?

– Mas, é isso mesmo que eu quero que você se lembre. Você se lembra ao menos do nome do autor?

– Aí piorou! O nome do autor é pior ainda de lembrar.

– Mas, você gosta mesmo desse assunto?

– Claro, professor! Mas, não tem relação com gostar. É que eu não me lembro direito de nome de artigo e de autor. De autor principalmente. Tem cada um mais complicado que o outro.

– Tudo bem! E você, Beltrana. Você poderia me dizer o nome de um artigo que tenha lido recentemente e o nome do seu autor?

– Tem aquele sobre Copérnico que o senhor falou. Como é mesmo o nome do autor?

– De novo? Não é possível! Vocês devem estar brincando.

– Não, professor, é que eu também, assim como o Fulano, não me lembro bem de nomes de gente. É como ele falou: tem muitos nomes complicados. O senhor se lembra porque tem memória de elefante.

– Pois, eu não concordo. Eu acho que é apenas uma questão de gostar mesmo do assunto. Afinal, é muito importante que vocês possam mencionar as fontes que estiverem utilizando. Vamos testar a nossa memória. Eu vou perguntar algumas coisas simples a vocês. Qual é a sua diversão predileta, Fulano?

– Futebol, professor!

– E você, Beltrana?

– Cinema, professor!

– Fulano, diga-me o nome de um bom jogador de futebol.

– Há professor, tem muitos. Tem o Romário, Ronaldinho, Pelé, Maradona, Zidane, Zico, o ...

– Pode parar, Fulano. Eu lhe pedi apenas um nome.

– E você, Beltrana, qual o nome de um bom ator de cinema?

– Também tem vários nomes, professor. Kevin Costner, Mel Gibson, Tom Cruise ....

– Basta, Beltrana; eu pedi apenas um nome.

– Mas, é difícil lembrar-se de apenas um nome quando a gente gosta do assunto.

– Isso mesmo! É aí que eu queria chegar. Vocês dizem gostar tanto do que estudam, mas jamais se lembram do nome de um único autor. E dizem que a culpa é da memória que é fraca. Tem algo errado nessa estória, não?

Outro dia o Fulano estava apresentando um seminário e frequentemente mencionava a expressão “segundo o autor”.  Incomodado com aquela menção tão imprecisa, eu lhe perguntei:

– Fulano, você frequentemente se refere ao autor; mas, quem é ele? Qual o seu nome?

– Desculpe, professor, eu não me lembro bem. É um nome complicado, eu não me lembro.

– Mas, se você está apoiando o seu discurso nas ideias de um certo autor, eu acho que deveria saber o seu nome. É sempre importante, em qualquer trabalho científico, a necessidade de se mencionar as fontes de informação, de se atribuir devidamente os créditos das ideias e das informações utilizadas.

– Bem, professor, eu não sei! Eu acho isso de ficar citando nomes um troço meio exagerado.

– Como, assim? – Perguntei, eu.

– É que eu, por exemplo, não tenho uma boa memória para nomes. Para mim o que importa são as ideias.

– Eu concordo com o Fulano (disse a Beltrana). Eu geralmente não consigo me lembrar bem dos nomes dos autores. E, além disso, para que estar dizendo a todo instante o nome do autor? Eu acho isso um certo pedantismo.

– Eu também acho isso, professor – disseram quase em coro os demais alunos.

– Tudo bem! Vamos conversar sobre isso (disse eu). Fulano, por favor, suponha que você terminou a sua tese e até transformou-a em um excelente artigo que você publicou em uma conceituada revista da área. Ali estão as suas idéias bem colocadas e que lhe deram tanto trabalho para arranjar. Você vai ficar orgulhoso, não?

– Claro, professor! Quem não ficaria?

– Muito bem! Aí, então, você vai a um Congresso assistir uma palestra de um certo professor. Lá pelas tantas, o tal professor menciona várias ideias idênticas àquelas que você colocou em seu artigo. Até os dados numéricos coincidem. Está claro que ele deve ter lido o seu artigo. Você está feliz e até esperando que o seu nome seja mencionado; mas isso não acontece. O cara simplesmente passa adiante como se aquelas ideias fossem dele. O que você faz em tal situação?

– Eu tento ter calma. Levanto o braço e pergunto onde posso encontrar aquelas ideias, assim tão bem colocadas.

– Muito bem! Suponha, então, que o professor diga que leu as mesmas em um artigo, mas não cita o nome do autor. O que você faz?

– Eu insisto e pergunto o nome do autor desse artigo.

– Tudo bem! Mas, e se ele lhe responde que não se lembra do nome do autor? O que você diz?

– Espera aí, professor! Mas, aí o cara já está querendo me sacanear.

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