Alexandre Medeiros
“CAUSOS” DE PROFESSORES
Os Estudantes e a Falta das Citações
Este “causo” aconteceu durante uma aula da disciplina de Metodologia da Pesquisa em Educação em Ciências. Era uma disciplina de Mestrado e eu falava para os meus alunos sobre a importância de um pesquisador conhecer os principais autores da sua área e também sobre a importância de mencionar e citar devidamente as fontes de estudo. Disse isso e me virei para um dos estudantes, o Fulano.
– Você, Fulano, poderia , por favor, mencionar alguns nomes de artigos ou de livros na sua área de pesquisa que tenha lido ultimamente?
– Tem aquele dos modelos mentais professor. Como é o nome? Aquele que o senhor falou que era interessante?
– Quem perguntou o nome do texto fui eu, Fulano.
– O senhor sabe qual é. É aquele que fala que a dimensão semiótica ... Como é?
– Mas, é isso mesmo que eu quero que você se lembre. Você se lembra ao menos do nome do autor?
– Aí piorou! O nome do autor é pior ainda de lembrar.
– Mas, você gosta mesmo desse assunto?
– Claro, professor! Mas, não tem relação com gostar. É que eu não me lembro direito de nome de artigo e de autor. De autor principalmente. Tem cada um mais complicado que o outro.
– Tudo bem! E você, Beltrana. Você poderia me dizer o nome de um artigo que tenha lido recentemente e o nome do seu autor?
– Tem aquele sobre Copérnico que o senhor falou. Como é mesmo o nome do autor?
– De novo? Não é possível! Vocês devem estar brincando.
– Não, professor, é que eu também, assim como o Fulano, não me lembro bem de nomes de gente. É como ele falou: tem muitos nomes complicados. O senhor se lembra porque tem memória de elefante.
– Pois, eu não concordo. Eu acho que é apenas uma questão de gostar mesmo do assunto. Afinal, é muito importante que vocês possam mencionar as fontes que estiverem utilizando. Vamos testar a nossa memória. Eu vou perguntar algumas coisas simples a vocês. Qual é a sua diversão predileta, Fulano?
– Futebol, professor!
– E você, Beltrana?
– Cinema, professor!
– Fulano, diga-me o nome de um bom jogador de futebol.
– Há professor, tem muitos. Tem o Romário, Ronaldinho, Pelé, Maradona, Zidane, Zico, o ...
– Pode parar, Fulano. Eu lhe pedi apenas um nome.
– E você, Beltrana, qual o nome de um bom ator de cinema?
– Também tem vários nomes, professor. Kevin Costner, Mel Gibson, Tom Cruise ....
– Basta, Beltrana; eu pedi apenas um nome.
– Mas, é difícil lembrar-se de apenas um nome quando a gente gosta do assunto.
– Isso mesmo! É aí que eu queria chegar. Vocês dizem gostar tanto do que estudam, mas jamais se lembram do nome de um único autor. E dizem que a culpa é da memória que é fraca. Tem algo errado nessa estória, não?
Outro dia o Fulano estava apresentando um seminário e frequentemente mencionava a expressão “segundo o autor”. Incomodado com aquela menção tão imprecisa, eu lhe perguntei:
– Fulano, você frequentemente se refere ao autor; mas, quem é ele? Qual o seu nome?
– Desculpe, professor, eu não me lembro bem. É um nome complicado, eu não me lembro.
– Mas, se você está apoiando o seu discurso nas ideias de um certo autor, eu acho que deveria saber o seu nome. É sempre importante, em qualquer trabalho científico, a necessidade de se mencionar as fontes de informação, de se atribuir devidamente os créditos das ideias e das informações utilizadas.
– Bem, professor, eu não sei! Eu acho isso de ficar citando nomes um troço meio exagerado.
– Como, assim? – Perguntei, eu.
– É que eu, por exemplo, não tenho uma boa memória para nomes. Para mim o que importa são as ideias.
– Eu concordo com o Fulano (disse a Beltrana). Eu geralmente não consigo me lembrar bem dos nomes dos autores. E, além disso, para que estar dizendo a todo instante o nome do autor? Eu acho isso um certo pedantismo.
– Eu também acho isso, professor – disseram quase em coro os demais alunos.
– Tudo bem! Vamos conversar sobre isso (disse eu). Fulano, por favor, suponha que você terminou a sua tese e até transformou-a em um excelente artigo que você publicou em uma conceituada revista da área. Ali estão as suas idéias bem colocadas e que lhe deram tanto trabalho para arranjar. Você vai ficar orgulhoso, não?
– Claro, professor! Quem não ficaria?
– Muito bem! Aí, então, você vai a um Congresso assistir uma palestra de um certo professor. Lá pelas tantas, o tal professor menciona várias ideias idênticas àquelas que você colocou em seu artigo. Até os dados numéricos coincidem. Está claro que ele deve ter lido o seu artigo. Você está feliz e até esperando que o seu nome seja mencionado; mas isso não acontece. O cara simplesmente passa adiante como se aquelas ideias fossem dele. O que você faz em tal situação?
– Eu tento ter calma. Levanto o braço e pergunto onde posso encontrar aquelas ideias, assim tão bem colocadas.
– Muito bem! Suponha, então, que o professor diga que leu as mesmas em um artigo, mas não cita o nome do autor. O que você faz?
– Eu insisto e pergunto o nome do autor desse artigo.
– Tudo bem! Mas, e se ele lhe responde que não se lembra do nome do autor? O que você diz?
– Espera aí, professor! Mas, aí o cara já está querendo me sacanear.
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