terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Lei de Stevin e a Mineração Romana com a Técnica do Ruina Montium

Alexandre Medeiros (PhD, University of Leeds – Professor de Física e Astronomia, UFRPE)

SÉRIE DE TEXTOS: A FÍSICA NO DIA A DIA
AUTOR: Alexandre Medeiros
TÓPICO: HIDROSTÁTICA: LEI DE STEVIN
TÍTULO DO ARTIGO: A Lei de Stevin e a Mineração Romana com a Técnica do Ruina Montium

Como os Antigos Romanos Conseguiram Remover Completamente Montanhas Inteiras na Mineração de Las Medulas? Qual a Física subjacente a este feito?
Por volta do ano 25 AC, o imperador romano Augusto iniciou a mineração de ouro na região de Las Medulas, na Espanha (figura abaixo). Pelos dois séculos seguintes, os romanos utilizaram em tal exploração uma técnica hidráulica revolucionária para a época, denominada “Ruina Montium” e que consistia literalmente em cortar as rochas com poderosos jatos de água dirigidos a partir de um reservatório situado até 250 m acima da local da jazida.


A grande quantidade de água necessária para a mineração era retirada dos rios que nasciam nas montanhas da próxima Serra de La Cabrera. Ela era, então, trazida por sete longos aquedutos que atingiam a extensão de 300 quilômetros; sendo em seguida armazenada em enormes reservatórios nas montanhas. 

Com esses jorros de água de alta pressão os romanos abriam cavidades e túneis nas montanhas. Os aquedutos ainda eram utilizados mais tarde também para enxaguar os gigantescos depósitos de ouro. De uma forma resumida, pode-se dizer que eles “arruinavam as montanhas”, numa tradução literal do termo Ruina Montium.

A técnica permitia explodir montanhas inteiras com o simples auxílio da variação da pressão exercida pela água graças ao aumento da profundidade. Assim procedendo, eles estavam utilizando intuitivamente aquilo que posteriormente viria a ser conhecido, no século XVII, como a Lei de Stevin:
Onde delta P é a variação de pressão, é a massa específica da água, g é a aceleração da gravidade e h é a profundidade do túnel.


Os romanos escavavam, nas paredes dos reservatórios, túneis inclinados profundos (figura acima) que penetravam na montanha. Era a grande profundidade desses túneis que garantiria a elevada pressão a ser exercida posteriormente pela água. Eles, então, vedavam as entradas desses túneis com comportas e enchiam os reservatórios com o auxílio dos túneis de condução de água e dos aquedutos. Quando os reservatórios estavam cheios, os romanos abriam as comportas; liberando a entrada da água Isso fazia com que fosse exercida uma enorme pressão nas partes mais baixas do interior da montanha (lei de Stevin) o que a escavava lentamente e terminava por causar a explosão da mesma.
O monte Medilianum, por exemplo, que então dominava a paisagem da região, foi integralmente desfeito por sucessivas enxurradas de água controladas pelos exploradores romanos.

A exploração do ouro em Las Medulas, durante os dois séculos de trabalho, envolveu cerca de 60 mil trabalhadores livres e trouxe aos romanos aproximadamente 1,65 milhões de quilos de ouro. No século III da nossa era, o ouro acabou e os romanos deixaram a região completamente devastada. Como não houve mais qualquer atividade extrativa na região, desde então, os espetaculares traços dessa marcante e devastadora tecnologia hidráulica da Antiguidade permanecem visíveis até hoje.


PARA CITAR ESTA FONTE: Medeiros, Alexandre. A Lei de Stevin e a Mineração Romana com a Técnica do Ruina MontiumFísica e Astronomia_Alexandre Medeiros, BLOG. http://alexandremedeirosfisicaastronomia.blogspot.com/2011/11/lei-de-stevin-e-mineracao-romana-com.html. Acessado em 15 de Novembro de 2011. (atualizar a data)


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário