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terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Professor de Química e sua Prova Oral

Alexandre Medeiros

CAUSOSDE PROFESSORES


O Professor de Química e sua Prova Oral




Esse “causo” me contaram e já é bem antigo. Ele se passou, creio que na década de 50, com um famoso professor de Química da Faculdade de Medicina. Naquela época os professores ainda faziam prova oral, uma sabatina. E esse professor era famoso por sua exigência e severidade. Os alunos, um a um, iam sendo sabatinados e um deles aguardava temeroso o seu destino.

Indivíduo não muito aplicado e a quem a Natureza não ajudara muito no raciocínio, o pobre rapaz já estava esperando o seu triste destino na hora da sabatina. De repente, chega o diretor e conversa com o professor ao pé do ouvido.

– Olha! Você sabe aquele estudante ali. E olha disfarçadamente para o referido rapaz.

– Sei! (diz o professor) Ele não sabe nada. É fraco todo.

– Pois, é! Mas ele é sobrinho do senador Fulano de Tal e o senador não tem filhos e gosta do menino como se fosse filho dele.

– E daí?

– Daí, meu amigo, que o senador está resolvendo um problema para a Faculdade e você vai ter de dar um jeito de não reprovar o menino. Pergunte apenas coisas que ele consiga responder.

O professor fica preocupado e na vez do rapaz, tenta simplificar as questões:
Meu filho (diz o professor), eu vou lhe fazer uma pergunta bem direta. Por favor, não se precipite.

– Sim, senhor. Pode deixar! (diz o rapaz já tremendo as pernas).

– Pois, bem. Diga-me o seguinte: o ácido sulfúrico é um ácido ou uma base?
                                                                              
O aluno para, pensa, e bem devagar responde:

– É uma base, não é professor?

O professor olha atônito para o rapaz; mas, lembrando-se do que havia lhe dito o diretor, responde calmamente:

– É, meu filho! Se você comparar o ácido sulfúrico com um ácido ainda mais forte do que ele, ele se comporta como se fosse uma base. Muito inteligente a sua resposta. Cinco pontos! Agora, me diga só mais uma coisinha: você pode beber ácido sulfúrico?

Posso! Não é professor?

– Isso, meu filho, você acertou! Poder beber, você pode, não é? Mas, você morre! Você apenas não DEVE beber ácido sulfúrico, mas PODER beber, você pode. Muito bem, você tirou dez.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Com Isótopos na Mente e Dalton no Coração

II ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS
(Valinhos – São Paulo, 1999)

Com Isótopos na Mente e Dalton no Coração

Alexandre Medeiros (Departamento de Física, UFRPE)

Resumo
A presente pesquisa tenta retratar as sintonias e os desencontros observados entre as visões de um conjunto de professores e de estudantes a respeito do conceito de isótopos e o desenvolvimento histórico daquele conceito. A análise dos resultados da pesquisa conduziu a uma visão de que embora uma parcela representativa de tais indivíduos seja capaz de enunciar uma razoável definição da idéia de isótopos, não obtém o mesmo sucesso na utilização da idéia em questões bastante elementares. Tudo leva a crer que o conhecimento exibido encontra-se meramente ao nível da memorização de uma definição padronizada, sem a incorporação do respectivo significado da mesma em sua abrangência e profundidade. Considerações a respeito do papel a ser desempenhado pela história da ciência no ensino são feitas a partir da análise dos discursos coletados confrontados com o desenvolvimento histórico do tema em pauta.

Introdução
Nos últimos anos uma grande quantidade de pesquisas tem apontado na direção de uma maior utilização da história da ciência no ensino das ciências (Chapman, 1979; Cantor, 1981; Jenkins, 1989; Nielsen & Thomsen, 1989; Mathews, 1990; Medeiros, 1992; Matthews, 1994; para mencionar apenas alguns). Tem sido enfatizada a importância de uma abordagem que incorpore elementos históricos no sentido de comunicar uma idéia da natureza da ciência mais próxima da complexidade da atividade de pesquisa (Tawney, 1974; Bonera, 1983; Koulaidis, 1989; Medeiros, 1992). O ensino tradicional, por outro lado, tem se caracterizado como uma mera “retórica de conclusões” onde o contexto da descoberta praticamente não tem sido mencionado (Schawbb, 1960; Finegold, 1974). A visão de ciência que se pode tirar de um tal ensino tem sido descrita como uma mera caricatura do empreendimento científico ao qual se refere (Kuhn, 1970; Siegel, 1979). Um certo paralelismo entre as concepções dos estudantes e aquelas encontradas ao longo da história, tem sido documentado (Piaget & Garcia, 1983), embora os exageros em tais paralelismos tenham sido igualmente devidamente criticados (Driver, Guesne & Tiberghien, 1985; Lythcott, 1985). O tema requer, sem dúvida, um aprofundamento analítico que enfoque estudos de casos históricos que possam subsidiar avaliações mais cuidadosas das semelhanças e das diferenças entre aquilo que pensam os atores do processo educativo, a respeito de determinados conceitos científicos, e o que pode ser percebido em tais incursões históricas. Baseando-se na incursão histórica sobre o desenvolvimento da ideia de isótopos apresentada por Medeiros (1999), esta investigação tenta colocar alguma luz no sentido de avaliar uma tal questão referente à ideia da plausibilidade ou não da existência de isótopos, assim como da sua conceituação entre estudantes e professores.

Metodologia
O presente estudo envolveu a realização de entrevistas individuais com trinta estudantes do segundo grau que haviam manifestado, antes de tudo, gostarem das disciplinas ‘química’ e ‘física’. Deste modo, tentou-se minimizar fatores ligados a aspectos motivacionais que pudessem interferir no desejo de uma melhor compreensão das ideias científicas colocadas em jogo. Foram também entrevistados dez professores de química e dez professores de física do curso secundário, todos com mais de dez anos de experiência profissional. Com isso tentou-se minimizar fatores ligados à pouca experiência do professor no tratamento pedagógico com os conceitos colocados em jogo. Complementando o grupo dos sujeitos da nossa pesquisa, foram entrevistados dez estudantes de licenciatura em química, dos últimos semestres, assim como dez estudantes de licenciatura em física, em situação semelhante. Foi utilizado um questionário semiestruturado e as perguntas foram feitas numa sequência tal que a continuidade da entrevista dependia do tipo de resposta fornecida. Assim sendo, não é de se admirar que as entrevistas com os professores e estudantes universitários tenham sido, em média, mais longas do que aquelas com os alunos do segundo grau. Embora os temas levantados fossem os mesmos, a forma de questionar variou um pouco procurando respeitar as diferenças existentes entre os distintos grupos de indivíduos. A pequena entrevista foi sempre antecedida por uma breve conversa sobre temas outros e também sobre a finalidade do estudo procurando descontrair os entrevistados.
A pergunta inicial pedia para o indivíduo dizer se dois átomos de dois elementos diferentes eram semelhantes ou diferentes. Não foi perguntado explicitamente se eram iguais. No caso dos alunos do segundo grau foram utilizados casos contextualizados, como mencionar, por exemplo, um átomo de ferro e um de cobre, ou outros mais, no sentido de entenderem bem o que estava sendo questionado. A segunda pergunta repetia a situação da primeira, agora porém, referindo-se a dois átomos de um mesmo elemento. Mais uma vez, evitou-se falar explicitamente em igualdade. A terceira questão dizia respeito à conceituação dos isótopos e foi feita de modos diferentes entre os diversos grupos. Por exemplo, aos alunos do segundo grau foram feitas, inicialmente, perguntas tais como: “você já ouviu falar em isótopos?”. Só após alguma resposta positiva, é que era perguntado se eles lembravam-se do que aquilo significava. Evitaram-se perguntas diretas que pudessem intimidar os alunos, como, por exemplo, pedir a todos uma definição explícita de isótopos. Só nos casos em que a resposta era afirmativa acerca da lembrança do significado é que foi pedido para tentarem dizer o que eram isótopos. As entrevistas prosseguiram, quando pertinente, pedindo alguns exemplos de isótopos. Foi perguntado, finalmente, igualmente quando pertinente, se o entrevistado via alguma relação do que havia acabado de conceituar a respeito de isótopos e as suas respostas anteriores. Neste ponto encerraram-se as entrevistas.
A análise das entrevistas requereu uma categorização das respostas obtidas dentre os diversos grupos. Como parte dessa categorização dizia respeito a comparações com o desenvolvimento histórico do tema em foco, foi necessário realizar um estudo histórico auxiliar que demandou consultas e leituras criteriosas a fontes secundárias de qualidade, assim como a fontes primárias como, por exemplo, trabalhos de John Dalton, William Ramsey, Francis William Aston, dentre outros apontados na bibliografia. A presente investigação insere-se dentro do paradigma qualitativo de análise, onde um mergulho em profundidade nos significados atribuídos substitui a busca de conclusões abrangentes. Assim sendo, a identificação das categorias e as análises individuais dos discursos coletados é que se constituíram no eixo investigativo. Deste modo, as regularidades identificadas, aqui apresentadas e comentadas, têm apenas a conotação interpretativa evitando-se conclusões generalizadoras. O fato, portanto, de que nas análises sejam apresentadas posições invariantes identificadas nos discursos tem o intuito apenas de evitar repetições das análises individuais e não de dar-lhes qualquer tratamento estatístico.

Análise das Entrevistas
No tocante à primeira pergunta (se dois átomos de dois elementos diferentes eram semelhantes ou diferentes), a totalidade dos entrevistados salientou, de maneiras diversas, que “dois átomos de elementos diferentes são diferentes”. No tocante à segunda pergunta (se dois átomos de um mesmo elemento eram semelhantes ou diferentes), dentre os vinte professores entrevistados (dez de química e dez de física), apenas dois deles (um de química e o outro de física) referiram-se logo de início aos isótopos. O restante, a despeito do longo tempo de ensino, foi unânime em optar pela igualdade. Quando provocados com a pergunta: “iguais como?”, no entanto, dois professores de química mudaram de ideia, afirmando, respectivamente: “epa, aí depende. Tem os isótopos, né?” e “a gente tem que considerar também os isótopos”.
Os demais professores, mesmo provocados pelo “iguais como?” não modificaram suas respostas. É importante notar que, embora a palavra “igualdade” tivesse sido evitada no questionamento, os entrevistados, em sua grande maioria, usaram-na explicitamente e de forma espontânea. Quando era-lhe perguntado: “iguais como?”, a resposta quase sempre  envolvia afirmações do tipo: “iguais, iguais”; “iguais em tudo”, ou então “iguais em peso”.
Esse padrão de resposta foi muito mais evidente entre os estudantes, tanto secundaristas quanto universitários, que na sua totalidade optaram inicialmente pela igualdade de dois átomos de um mesmo elemento. Quando provocados pelo “iguais como?”, apenas uma estudante de química modificou sua resposta, afirmando: “o peso atômico pode ser diferente”.
Entre os secundaristas, a provocação não surtiu efeito. Respostas do tipo “iguais em tudo”, foram as mais frequentes com vários explicitando o peso. A terceira questão, quando feita aos secundaristas, trouxe uma quase unanimidade de afirmações que diziam já terem ouvido falar de isótopos. Apenas três deles não lembravam da palavra. Questionando aqueles estudantes, do curso secundário, que lembravam-se da referida palavra sobre o seu significado, foi obtida uma enorme variedade de respostas, categorizadas; porém num número reduzido de categorias. Houve, por exemplo, os que lembravam-se de coisas desencontradas, como um que respondeu: “É aquele negócio de prótons e neutrons, não é?”; “Como é mesmo? A massa dos prótons ...”; “diferente número de elétrons e mesmo de neutrons. É isso, né? Ah, sei não!”. Um outro tipo de categoria observada, ainda que em uma menor quantidade de respostas, entre os secundaristas, foi constituído de respostas padronizadas, ainda que formalmente satisfatórias. Exemplos delas são: “tem o mesmo lugar na tabela periódica, mas diferentes pesos atômicos”; “mesmo número de prótons e diferente número de neutrons”; “número atômico igual e número de massa diferente”.
Quando formulada aos estudantes universitários, a pergunta sobre o que eram isótopos encontrou um número bem maior de respostas formalmente corretas. Apenas um estudante de física respondeu algo desencontrado. Todos os demais saíram-se com o tipo de resposta padrão acima mencionado, falando por vezes na posição do elemento na tabela periódica, outras vezes mencionando pesos ou massas atômicas ou ainda falando dos números de prótons e de neutrons. Dentre os professores de química e de física, nenhum deixou de apresentar uma definição aceitável como as acima comentadas.
A questão que perguntava se o entrevistando via alguma relação entre a sua conceituação de isótopos e as respostas dadas anteriormente teve um padrão de respostas muito diferente entre os secundaristas e os estudantes universitários e professores. Apenas um aluno secundarista, dentre os que haviam conceituado aceitavelmente os isótopos, percebeu uma contradição com sua resposta anterior de que átomos de um mesmo elemento são necessariamente iguais.
Dentre os estudantes universitários, a metade mudou de posição após conceituar aceitavelmente os isótopos e serem perguntados sobre a relação daquela resposta com as anteriores. A outra metade, no entanto, mostrou-se imune à provocação, conseguindo apresentar uma definição aceitável de isótopos, fazendo-a, paradoxalmente, manter-se paralela à crença de que átomos de um mesmo elemento são necessariamente iguais.
Dentre os professores de química a provocação surtiu bastante efeito. Todos mudaram o seu posicionamento anterior. Alguns riram da situação contraditória na qual haviam deixado se envolver. Outros ficaram preocupados sem saber como “haviam caído nessa”. Dois deles disseram que iam “aproveitar a ideia para elaborar uma questão numa prova”. O restante não fez comentários. Nenhum fez considerações sobre qualquer repercussão educacional daquele inquietante desencontro. Entre os professores de física o tipo de resposta foi muito semelhante, sendo que um deles, porém, não percebeu qualquer desencontro entre a sua aceitável conceituação de isótopos e a sua ideia, anteriormente exposta, acerca da necessária igualdade de átomos de um mesmo elemento.
No tocante à exemplificação de isótopos arguida aos entrevistados que apresentaram uma definição aceitável dos mesmos, observou-se um interessante padrão de respostas: todos, sem qualquer exceção, optaram por mencionarem exemplos de isótopos radioativos. Dentre eles, o Urânio 235 foi o campeão absoluto das menções registradas. Nenhuma única menção aos isótopos não radioativos foi espontaneamente lembrada. Não se deve daqui inferir que os entrevistados, em sua totalidade, desconhecessem tais isótopos. Apenas ficou registrado que essa ideia não parece ser espontaneamente convidativa, ao ponto de ser mencionada sem qualquer provocação. Uma falha desta pesquisa, agora perceptível, foi não ter sido, em seguida, provocada a discussão sobre tais isótopos, principalmente com os professores de química.
Como um complemento da pesquisa, perguntou-se, ainda, a uma parcela representativa dos professores de física e à totalidade dos de química, se sabiam algo sobre a história da descoberta dos isótopos. A quase totalidade respondeu negativamente. Os poucos que disseram que conheciam algo de tal desenvolvimento, não se aventuraram, no entanto, a tentarem qualquer retrospectiva, voluntariamente. Perguntados se sabiam quem havia sido Aston, entretanto, todos responderam que não, incluindo evidentemente aqueles que diziam conhecer algo do referido desenvolvimento histórico.

Algumas Considerações Históricas
Como foi tentado mostrar em artigo recente (Medeiros, 1999), a questão da plausibilidade da existência de isótopos na natureza está longe de ser algo trivial. Os resultados do presente estudo revelou um enorme desencontro entre suas compreensões da teoria atômica e suas distintas capacidades de enunciar o conceito de isótopos. Como evidenciado na análise, parcela representativa dos entrevistados, demonstrou acreditar que átomos de um mesmo elemento têm pesos iguais. Quando questionados sobre a conceituação dos isótopos, uma parte não soube o que responder. Dentre os que forneceram respostas aceitáveis para aquele conceito, a quase totalidade não chegou a perceber o desencontro entre a conceituação apresentada e a crença em algo extremamente semelhante ao segundo postulado de Dalton para a teoria atômica.
Este desencontro revela o quanto a ideia revolucionária da existência de isótopos na natureza é ensinada de modo descontextualizado da história de sua construção. Ignorando as dificuldades e as disputas travadas ao longo da história, o conteúdo parece ser apresentado de uma forma ascética, desprovida de significado para o estudante.
No artigo acima mencionado (Medeiros, 1999) é oferecido um pequeno resgate histórico da construção do conceito de isótopos que possa vir a ser de algum contributo àqueles interessados na problemática da construção das ideias científicas. Afinal, como afirmou Weinberg, prêmio Nobel de física de 1979: "nenhuma discussão dos pesos atômicos estaria completa sem um relato de como nossa moderna compreensão dos isótopos veio a se desenvolver" (Weinberg, 1990, p. 82).
No contexto de uma retrospectiva histórica do intenso debate que culminou na aceitação dos isótopos não radiativos cabe apenas relembrar que “a nossa história pode ser reconstruída, em boa parte, baseada nos próprios escritos de Aston, como o trabalho por ele publicado na revista Nature, no início do século, intitulado "Isotopes and Atomic Weights", assim como no discurso de apresentação do prêmio Nobel de química de 1922. Acompanhar uma tal história pode fornecer ao professor uma visão mais ampla para enfocar as próprias dificuldades encontradas pelos seus alunos na utilização da ideia da existência de isótopos.
Aston lembra-nos que o segundo postulado da teoria atômica, enunciado por Dalton em 1801, estabelecia que: "átomos de um mesmo elemento são semelhantes uns aos outros e iguais em peso". Por mais de um século esta concepção vigorou, entre os atomistas, de forma hegemônica. Ainda que tenha vindo a ser superada, com os trabalhos de Aston, parece muito semelhante às ideias frequentemente encontradas entre estudantes, segundo dados das nossas próprias pesquisas. E se isso é um fato, conhecer um pouco do caminho que levou ao seu abandono, pode ser de alguma utilidade para os seus professores” (Medeiros, 1999).

Conclusões
Ficou clara a necessidade de apresentar conclusões que fizessem a conexão entre os dados coletados nas entrevistas e a trajetória histórica do desenvolvimento da ideia de isótopos. De uma forma bem marcante ficou clara a existência de paralelismos entre as concepções atuais dos entrevistados e a trajetória histórica do desenvolvimento do conceito de isótopos.
A ideia de isótopos como elementos de massas diferentes, mas com as mesmas propriedades químicas e que por isso ocupariam o mesmo lugar na tabela periódica, passou, após os trabalhos de Aston, a ser aceita, de forma tão dominante que foi ganhando o aspecto de um lugar comum. Aquilo que por muito tempo pareceu a vários cientistas de renome como um autêntico absurdo e que requereu um intenso esforço e uma acesa disputa para o seu estabelecimento, em meio a uma crítica vigorosa, foi sendo incorporado ao ensino como algo de aspecto quase trivial. Não é por acaso, portanto, que retirado do contexto histórico que lhe deu origem, o conceito de isótopos seja tão fácil de ser enunciado pelos professores quanto de ser esquecido pelos estudantes, que em última instância apenas recordam da definição, tal como possam recordarem-se de um verso, sem fazerem necessariamente um uso crítico da extensão e das consequências que um tal conceito carrega.
Aqueles professores interessados em que os seus alunos compreendam a ciência de uma maneira mais significativa, precisariam, portanto, fazer um esforço para romper o apelo inegável exercido por convicções dos seus alunos semelhantes ao segundo postulado de Dalton, ao invés de presentear-lhes com uma definição historicamente descontextualizada do que sejam isótopos. Se os professores não quiserem correr o risco de apresentarem as respostas antes que as perguntas tenham sido ao menos identificadas, a história da ciência terá, com certeza, um importante contributo a exercer no ensino.

Bibliografia
BONERA, G. (1983). Introductory Remarks: How and Why this Conference was Born. In P. Kennedy & F. Bevillacqua (eds.) Proceedings of the International Conference on Using History of Physics in Innovatory Physics Education. Pavia: University of Pavia, Italia.
CANTOR, G. (1981). Criticism of the Projectile Theory of Light. Physics Education, vol. 16.
CHAPMAN, B. (1979). Special Relativity and the Michelson-Morley Experiment. Physics Education, vol. 14.
DRIVER, R.; Guesne, E. & Tiberghien, A. (1985). Children's Ideas in Science. Milton Keynes: Open University Press.
FINEGOLD, M. (1974). Abandoned Paradigms: A Source of Materials for Discussion on the Nature of Research in Physics. The Physics Teacher, October.
JENKINS, E. (1989). Why the History of Science? In M. Shortland & A. Warwick (eds): Teaching the History of Science. Oxford: Basil Blackwell.
KOULAIDIS, V. (1989). Philosophy of Science: An Empirical Study of Teachers' Views. International Journal of Science Education, vol 11 (2).
KUHN, T. (1970). The Structure of Scientific Revolutions. Chicago: University of Chicago Press.
LYTHCOTT, J. (1985). 'Aristotelian' was Given as the Answer, but What Was the Question? American Journal of Physics, vol. 53 (5).
MATTHEWS, M. (1990). History, Philosophy and Science Teaching: A Rapprochement. Studies in Science Education, vol. 18. MATTHEWS, M. (1994). Science Teaching: The Role of History and Philosophy of Science. New York: Routledge.
MEDEIROS, A. (1999). Aston e a Descoberta dos Isótopos. Química Nova na Escola. N. 10, Novembro 1999.
MEDEIROS, A. (1992). Teachers of Physics Understanding of the Nature of Science with Particular Reference to the Development of Ideas of Force and Motion. Unpublished PhD thesis. University of Leeds, Inglaterra.
NIELSEN, H. & THOMSEN, P. (1989). History and Philosophy of Science in Physics Education. Centre for Studies in Physics Education, University of Aarhus, Denmark, Unpublished paper.
PIAGET, J. & GARCIA, R. (1983). Psychogenèse et Histoire des Sciences. Paris, Flammarion.
SCHWABB, J. J. (1960). Enquiry, the Science Teacher and the Educator. The Science Teacher, October.
SIEGEL, H. (1979). On the Distortion of the History of Science in Science Education. Science Education, vol. 63 (1).
TAWNEY, D. (1974). The Nature of Science and Scientific Inquiry. In C. Sutton & J. Haysom (eds.): The Art of the Science Teacher. London: McGraw-Hill.

Cognição e Resolução de Problemas na Educação Química e na Educação Matemática

XI Encontro Nacional de Ensino de Química – ENEQ 2002 – (UFRPE – Recife, PE)

Cognição e Resolução de Problemas na Educação Química e na Educação Matemática

Mario José de Oliveira Thomaz Neto (Departamento de Matemática, Universidade do Estado do Pará), Cleide Farias de Medeiros (Departamento de Educação, UFRPE), Cláudio Câmara (Departamento de Química, UFRPE) & Alexandre Medeiros (Departamento de Física, UFRPE)

Palavras Chave: Educação Química, Problemas.
Introdução
A Educação em Ciências inclui, necessariamente, o ensino e a aprendizagem dos conceitos científicos e a formação de um corpo de conhecimentos organizados em uma determinada área. Entretanto, além de compreender os referidos conceitos e ter uma tal estrutura, é preciso que o estudante aprenda, também, a aplicar esse conhecimento na resolução de problemas. Deste modo, a temática da resolução de problemas tem assumido uma enorme importância na Educação Científica em geral. As pesquisas têm mostrado que os estudantes, muitas vezes, não compreendem os conceitos envolvidos nos problemas abordados ou que mesmo compreendendo-os não são capazes de transferirem adequadamente um tal conhecimento para dar conta de situações problemáticas. Confrontados com problemas em Educação Química, eles frequentemente adotam simples algoritmos ou obtêm até mesmo algumas respostas desencontradas1,2. Parece deste modo, ser uma necessidade premente o desenvolvimento de pesquisas que orientem a adoção de formas de ensino que possam auxiliar os estudantes nessa difícil tarefa de resolver problemas. Os estudos neste campo em Educação Química evoluíram acompanhando uma tradição de investigações já existente na área da Educação Matemática3,4 e que remonta aos trabalhos de Wertheimer e de Polya. Esta proximidade entre os estudos em resolução de problemas tanto na Educação matemática quanto na Educação Química pode ser benéfica às duas áreas. A presente pesquisa visa estreitar os laços já existentes entre as pesquisas nestes dois campos tornando-os explícitos. Para tal, este trabalho apresenta-se como uma investigação comparativa entre essas duas áreas da pesquisa educacional, estudando a potencialidade do seu terreno comum e delimitando, igualmente, as suas especificidades.

Resultados e Discussão
A presente pesquisa desenvolveu-se através de um uma extensa comparação de resultados apontados nos campos da Educação Matemática e da Educação Química. Os resultados da análise apontaram para a existência de pontos comuns, principalmente no tocante às recomendações de estratégias e à necessidade da existência de certos conhecimentos prévios para um enquadramento bem sucedido dos problemas em foco. Outros pontos comuns identificados foram a importância atribuída: ao papel desempenhado pelas variáveis cognitivas; à linguagem adotada nos enquadramentos; nas representações dos problemas e às suas expressões imagéticas. As diferenças apontadas na apresentação deste trabalho, são creditadas mais às especificidades temáticas desses dois campos. Entretanto, para além das diferenças existentes nas abordagens desenvolvidas nesses dois campos de pesquisa, delineou-se, sobretudo, tanto a importância do estudo das questões metacognitivas que estão subjacentes às escolhas efetuadas como do estudo das relações entre os contextos verbais’ e os contextos reais’dos problemas.

Conclusões
O presente estudo mostrou como o atual estágio de desenvolvimento das pesquisas em Educação Química e em Educação Matemática implica na necessidade de pesquisas comparativas que possam minimizar esforços, encontrando pontes e fontes de inspiração mútuas de lado a lado. Para além dos avanços propiciados pela busca de tais pontes descortina-se a própria construção de uma Educação nas Ciências mais holística que embora respeite a existência de especificidades pretenda-se a uma atividade multidisciplinar.

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1Lee, K., Tang, W., Goh, N. & Chia, L. Chemistry Education: Research and Practice in Europe. 2001, 2, 3, 285-301
2 Rodner, G. & Domin, D. Proceedings of the ICASE Summer Symposium. 1998, 160-182.
3 Medeiros, C F. Ciência & Educação. 2001, 7, 2, 209-234.
4 LeBlanc, J. Arithmetic Teacher. 1977, November, 16-20.

A Educação Química e a Música: A Vida e a Obra de Aleksandr Borodin

XI Encontro Nacional de Ensino de Química – ENEQ 2002 (Recife, UFRPE)

 A Educação Química e a Música: A Vida e a Obra de Aleksandr Borodin

Lúcia Helena Aguiar de Souza (Departamento de Química, UFRPE), Alexandre Medeiros (Departamento de Física, UFRPE), Francisco Nairon Monteiro Júnior (Departamento de Física, UFRPE), Cláudio Câmara (Departamento de Química, UFRPE), & Cleide Farias de Medeiros (Departamento de Educação, UFRPE)


Palavras Chave: Educação Química, Música, Borodin.


Introdução
Dentre as recomendações contidas nos PCN está a necessidade de se propiciar ao educando uma educação científica mais holística, que contemple a formação do cidadão e que evite a simples especialização precoce. Na Educação Química uma das formas mais eficazes de inserir a dimensão humana e cultural na formação conceitual mais específica parece ser o recurso à história da ciência com a busca de possíveis laços existentes entre a produção do conhecimento científico e o contexto mais amplo no qual este sempre esteve envolvido1. Com tal objetivo em mente, os autores do presente trabalho dedicaram-se à investigação de um precioso estudo de caso histórico: a vida e a obra de Aleksandr Porfirevich Borodin, um personagem singular que transitou no século XIX entre a química e a música2,3,4. Entretanto, mais do que simplesmente relatar suas conquistas na química e na música, de formas isoladas, a pesquisa buscou encontrar os pontos de contato entre essas duas produções, tentando identificar as possíveis sintonias entre as mesmas. Para tal, o trabalho caracterizou-se, não apenas, como uma pesquisa histórica descritiva, mas, essencialmente, como uma hermenêutica. Esse traço metodológico caracteriza-se pela necessidade da busca de interpretações que conferissem um sentido comum e mais profundo a questões, aparentemente, díspares.

Resultados e Discussão
Os resultados da pesquisa histórica conduziram a um levantamento da vida e da obra de Borodin no contexto histórico-social no qual se deu a sua própria existência. Educado, inicialmente, em São Petesburgo, Borodin manifestou, desde criança seu talento para a música. Tendo estudado medicina na Rússia, fez, posteriormente seu doutorado em química orgânica na Alemanha com uma tese intitulada “On the analogy of arsenic acid with phosphoric acid in chemical and toxicological behaviour”. Após a conclusão do seu doutorado tornou-se um compositor por diversão, enquanto assumia a química como sua verdadeira profissão. Além de professor, foi ativo pesquisador em química orgânica, tendo dado várias contribuições, muitas das quais foram, indevidamente, atribuídas a outros cientistas. Orientado com um pensamento unificador que se manifestou de forma grandiosa em sua música épica, principalmente em sua ópera “Príncipe Igor”, Borodin orientou seus trabalhos em química orgânica, igualmente, pela busca de unificações e princípios globalizadores5. Uma análise mais acurada de sua obra artística e de sua contribuição científica põe em evidência essa sintonia que é exibida e discutida neste trabalho, na forma de um pôster. Acompanhando as explicações científicas pertinentes para que se perceba esta característica unificante mencionada, são exibidos também trechos de suas composições musicais para que fique evidenciado o seu caráter épico. Uma discussão do próprio significado da música épica é feita como uma ferramenta de análise essencial na compreensão das sintonias a serem devidamente apreciadas.

Conclusões
O estudo mostra, exemplarmente, como a química pode ser ensinada de modo que respeite a sua história e que possa estabelecer vínculos entre a produção cultural mais ampla dos seres humanos. O material escrito complementar que acompanha este trabalho foi produzido para vir, além disso, a constituir-se em um subsídio para aqueles professores que pretendam por em destaque essa dimensão humana da produção científica em suas aulas de química.

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1 Filgueras, C. Química Nova na Escola. 2001, 24, 5, 709-712.
2 Ruiz, A. Educación Química. 2001, 12, 4, 190-192.
3 Willcox, T. Education in Chemistry. 1973, June, 170-173.
4 White, A. Journal of Chemical Education. 1987, April, 326.
5 Levasev, E. Il Saggiatori Musuicali. 1998, V, 69

Do Polariscópio ao Polarímetro: A Evolução de um Instrumento



Do Polariscópio ao Polarímetro: A Evolução de um Instrumento

Cláudio Augusto Gomes da Câmara (Departamento de Química, UFRPE), Alexandre Medeiros (Departamento de Física, UFRPE), Lúcia Helena Aguiar de Souza (Departamento de Química, UFRPE) & Cleide Farias de Medeiros (Departamento de Educação, UFRPE)



Palavras Chave: Instrumento; História; Polarímetro.



Introdução
Dentre os muitos eixos que tem caracterizado a pesquisa em Educação Química, dois deles têm merecido uma atenção especial: os estudos dos desenvolvimentos histórico-conceituais e aqueles relacionados à instrumentação para o ensino1. Na química, a existência de um grande número de substâncias é justificada devido às inúmeras possibilidades de como suas moléculas se arranjam no espaço. Sendo assim, um dos ramos mais fascinantes e de grande relevância para a compreensão do comportamento molecular é, sem dúvida alguma, a Estereoquímica. Como distinguir, por exemplo, duas substâncias assimétricas que sejam imagens especulares uma da outra e que não se sobreponham? Esta diferença pode ser revelada através do desvio, que é distinto para cada estereoisomero, causado pela interação matéria-energia quando uma luz “especial” atravessa cada um dos compostos. Dizem-se oticamente ativas, as substâncias que desviam esta luz "especial”. O aparelho que permite, na prática, verificar se a substância é ou não oticamente ativa é o polarímetro2. Este tem caracterizado-se como um dos principais instrumentos de análise na química orgânica. A descrição do funcionamento de tal instrumento tem sido feita, comumente, de forma sistêmica, sem se ater aos significados dos fenômenos ocorridos em cada uma das partes do sistema. O presente trabalho tenta unir os dois eixos acima mencionados relativos à pesquisa em educação química, apresentando uma evolução histórica de um importante instrumento na aprendizagem da química orgânica: o polarímetro.

Resultados e Discussão
Os resultados desta pesquisa histórica apontam para a importância da compreensão do surgimento do polariscópio como uma etapa na evolução do desenvolvimento do polarímetro. Apesar da diferença etimológica, entre as palavras polariscópio e polarímetro, ambos os instrumentos utilizam o mesmo princípio de funcionamento para descrever o mesmo fenômeno, muito embora diferentes informações sejam obtidas na utilização de cada um por meio da interpretação do fenômeno observado. Ambos os instrumentos são basicamente constituídos por uma fonte de luz e dois filtros polarizadores3. A utilização da luz em análise orgânica iniciou-se com a Polarimetria. Esta técnica usa o fenômeno da polarização da luz, que foi descoberto no século XVII por Bartholin e por Huygens. Biot, no século XIX, estudando os efeitos da luz polarizada (luz especial) sobre vários cristais observou que alguns tinham a propriedade de desviar a referida luz para a direita e outros para a esquerda. Baseado em tal fenômeno, Arago idealizou inicialmente o polariscópio e depois o polarímetro4. O polariscópio e o polarímetro diferem no tipo de amostra a ser analisada. O polariscópio permite a análise das tensões e das distribuições de materiais sólidos transparentes enquanto que o polarímetro permite medir com um disco graduado o ângulo da rotação da luz polarizada pela passagem da mesma através de uma solução. Além dos componentes supramencionados, o polarímetro possui ainda um recipiente para acondicionar a solução.

Conclusões
Compreender o funcionamento do polarímetro e do polariscópio implica não apenas em descrevê-los de um modo sistêmico. A compreensão mais profunda do funcionamento desses instrumentos implica em uma discussão dos significados físicos dos processos ocorridos em termos do que ocorre com o plano de polarização da luz e das suas razões de ser. Para que haja, entretanto, uma aprendizagem significativa, é necessário, acima de tudo, compreender a própria natureza eletromagnética da polarização da luz para que a informação sobre a estrutura interna das substâncias analisadas faça um sentido mais aprofundado.

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1 Medeiros, A. e Monteiro Jr, F. VIII Seminário de História da Ciência. Rio de Janeiro . 2001, 50-57.
2 Solomons, T. Organic Chemistry. 1986, 195-196.
3 Hawk, P. Practical Physiological Chemistry. 1913, 36-39.
4 Malacara, D. Óptica Tradiconal y Moderna. 1989. 9-45.

XI Encontro Nacional de Ensino de Química – ENEQ 2002 (UFRPE)            

domingo, 16 de outubro de 2011

Modelos Mentais de Estudantes de Química sobre a Pressão de Vapor em Soluções

XI Encontro Nacional de Ensino de Química – ENEQ 2002 (UFRPE)

Modelos Mentais de Estudantes de Química sobre a Pressão de Vapor em Soluções

Cícero Henrique da Cunha Monteiro (SEC-PE), Alexandre Medeiros (Departamento de Física), Francisco Nairon Monteiro Júnior (Departamento de Física, UFRPE), Cleide Farias de Medeiros (Departamento de Educação, UFRPE) & Cláudio Câmara (Departamento de Química, UFRPE)

Palavras Chave: Modelos Mentais, Soluções.

Introdução
As pesquisas em educação nas ciências têm dado, nos últimos tempos, grande importância aos modelos mentais apresentados por estudantes com respeito aos diversos conteúdos lecionados na escola. Tais modelos mentais têm sido investigados seja através de questionários escritos, seja através de textos ilustrativos, bem como de inquirições a respeito do funcionamento de experimentos reais que são utilizados na situação investigativa. Tais modelos revestem-se de importância fundamental no ensino dos conteúdos a que dizem respeito, pois tornam possível o repensar da prática educativa, direcionando a abordagem do professor em sala de aula das questões que os alunos não compreendem1. No caso do conteúdo em questão na presente pesquisa, procuramos investigar os modelos mentais esboçados por estudantes sobre a pressão de vapor em soluções líquidas de solutos não voláteis2,3. Tal investigação deu-se através de um instrumento de pesquisa no qual tentamos levantar as interpretações dos estudantes sobre o fenômeno em causa, acompanhadas das possíveis imagens que dão sentido às mesmas. As investigações foram feitas com as imagens de um aparato que consiste de uma caixa de vidro, vedada por completo, a qual possui uma divisória impermeável que separa o seu volume interno em duas partes iguais, conforme mostra a figura abaixo.
De acordo com esta figura, podemos ver que tal divisória se eleva, aproximando-se da parede superior, havendo, contudo, uma abertura que permite a passagem de gases de uma parte à outra. Com tal aparato, desenvolvemos um conjunto de situações-problema envolvendo volumes e concentrações diferentes de uma determinada solução colocada nas duas partes da caixa. Procuramos, ainda, investigar a dependência da pressão de vapor de uma solução com outras grandezas tais como área da superfície, natureza química do soluto, natureza química do solvente.

Resultados e Discussão
Numa segunda fase da pesquisa, os modelos mentais desenvolvidos pelos estudantes na análise das questões por eles investigadas foram catalogados e analisados. Neste exercício, buscamos determinar possíveis invariantes nos modelos por eles desenvolvidos. A análise dos modelos mentais dos estudantes revelou a existência de formas interpretativas alternativas acompanhadas de imagens diversas, como por exemplo, a idéia de que as moléculas do solvente ficariam mais pesadas e que tal fato seria o responsável pelo fenômeno observado na prática. Neste caso, a presença do soluto na superfície não parece ter sido vislumbrada como parte da relação causal. Na prática, entretanto, respostas que nem ao menos correspondiam à fenomenologia observada foram bem mais freqüentes e serão discutidas na apresentação deste trabalho.

Conclusões
Os resultados revelaram a necessidade de considerarmos os modelos mentais dos estudantes no ensino da temática das soluções, especificamente no tocante às aplicações da lei de Raoult. Parece-nos, entretanto, que novas investigações que toquem em outros pontos das propriedades coligativas deveriam ser realizadas no sentido de subsidiarem os dados coletados no presente trabalho.
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1. Coll, R. & Taylor, N. Chemistry Education: Research and Practice in Europe. 2002, 3, 2, 175-184.
2. Kugel R.W. Journal of Chemical Education. 1998, 75, 1125.
3. Hawkes, S. Journal of Chemical Education, 1995, 72, 204.

A Química dos Céus: 200 Anos do Nascimento da Espectroscopia

XI Encontro Nacional de Ensino de Química – ENEQ 2002 (UFRPE,  8 a 11 de Outubro de 2002)

A Química dos Céus: 200 Anos do Nascimento da Espectroscopia
Maria Amélia Monteiro (Escola Politécnica de Pernambuco), Alexandre Medeiros (Departamento de Física, UFRPE), Francisco Nairon Monteiro Jr (Departamento de Física, UFRPE)

Palavras Chave: Espectroscopia, Interdisciplinaridade.

Introdução
A necessidade do desenvolvimento de uma Educação em Ciências calcada em uma visão de Interdisciplinaridade tem assumido, nos últimos tempos, uma enorme importância. Dentre as principais recomendações contidas nos PCN está a necessidade de se propiciar ao educando uma educação científica mais holística, que contemple a formação do cidadão e que evite a simples especialização precoce. Na Educação Química, um dos modos mais promissores de resgatar a dimensão cultural e epistemológica na formação conceitual mais específica parece ser o recurso à história da ciência com a busca de possíveis laços existentes entre a produção do conhecimento científico e o contexto mais amplo no qual este sempre esteve envolvido1. Que exemplo maior de interdisciplinaridade poderíamos contemplar do que um estudo que unificasse o Céu e a Terra? Assim é a Espectroscopia, um campo de estudos que eleva o estudo da Química às estrelas e de lá retira informações preciosas, não apenas para conhecermos aqueles mundos distantes, mas, também, para compreendermos a nossa realidade terrena. Essa importância fica ainda mais evidenciada quando se assinala que no ano de 2002 a Espectroscopia comemora os 200 anos do seu nascimento, com os trabalhos pioneiros de William Wollaston2. Mas não bastam as motivações da Espectroscopia levantar uma rica discussão interdisciplinar, e nem mesmo de ser ela uma aniversariante de destaque neste ano corrente de 2002. Há, ainda, um outro motivo adicional e de cunho epistemológico, para enaltecer a importância de um tal estudo: a polêmica travada sobre as distintas interpretações das origens das raias espectrais no início do século XIX.

Resultados e Discussão
Os resultados deste estudo de caso histórico revelaram alguns importantes pormenores sobre os fundamentos das discordâncias interpretativas entre personagens como William Wollaston, Joseph Fraunhoffer, William Herschel e David Brewster3,4 acerca da origem das raias escuras encontradas nos espectros da luz proveniente das estrelas. O estudo revelou, ainda, como certas concepções podem ser resistentes mesmo quando evidências observacionais parecem jogar contra as mesmas. É o caso, por exemplo, das interpretações de Brewster que resistiram às evidências observacionais obtidas por Bunsen e por Kirchoff. Esse tipo de informação histórica parece-nos valioso para que possamos compreender a própria resistência de certas concepções manifestas por estudantes sobre vários tópicos científicos5. Detalhes desta discussão e dos seus desdobramentos educacionais são discutidos na apresentação deste trabalho.

Conclusões
O presente estudo evidenciou como investigações históricas podem ser úteis tanto no estabelecimento de ligações entre campos aparentemente díspares do conhecimento humano, como, também, para confrontar visões simplistas da ciência usualmente encontradas em livros didáticos e que induzem à crença em um desenvolvimento científico linear e isento, assim, de disputas interpretativas. O resgate das origens históricas da Espectroscopia possibilitou-nos exibir um cenário que pode servir de pano de fundo para que se perceba papel da crítica e das disputas como molas mestras do desenvolvimento científico. Resgatar esta polêmica é contribuir para a formação de uma visão de ciência mais sofisticada, que se afaste da linearidade de certas descrições históricas usuais. Por todos esses motivos, um resgate do nascimento da Espectroscopia oferece-se como um valioso contributo educacional na construção de uma Educação Química que reflita o seu presente baseado em uma investigação crítica da história da ciência.
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1 Filgueras, C. Química Nova na Escola. 2001, 24, 5, 709-712.
2 Wollaston, W. Philosophical Transactions of the Royal Society. 1802, 92, 365.
3 Brewster, D. Philosophical Magazine, 1836, 8, 384.
4 Brewster, D. & Gladstone, J. Philosophical Transactions of the Royal Society. 1860, 150, 149.
4 Pine, K., Messer, D. & St John, K. Research in Science & Technological Education. 2001, 19, 1, 79-96.

Modelos Mentais de Professores de Nível Médio de Química e de Física sobre o Fenômeno da Capilaridade

XI Encontro Nacional de Ensino de Química – ENEQ 2002 - UFRPE (Recife)

Modelos Mentais de Professores de Nível Médio de Química e de Física sobre o Fenômeno da Capilaridade
Marcos Barros (Colégio da Polícia Militar de Pernambuco), Alexandre Medeiros (Departamento de Física, UFRPE), Lucia Helena Aguiar de Souza (Departamento de Química, UFRPE), Cleide Farias de Medeiros (Departamento de Educação, UFRPE) & Cláudio Câmara (Departamento de Química, UFRPE)

Palavras Chave: Modelos Mentais, Capilaridade

 Introdução
As pesquisas sobre os modelos mentais de estudantes e de professores têm ocupado um papel de destaque na literatura investigativa em Educação em ciências nos últimos tempos1. Elas têm tentado dar conta de um universo interpretativo bem maior que aquele já explorado pelos trabalhos em concepções alternativas típicos dos anos 80. Dentre suas características principais estão: uma maior atenção com a coerência entre os componentes dos modelos em causa e sua forte dimensão imagética2. O presente trabalho visa levantar os modelos mentais de professores de Química e de professores de Física de nível médio sobre o fenômeno da capilaridade. O fenômeno da capilaridade é observado, por exemplo, quando um tubo de vidro de pequeno diâmetro (capilar) é parcialmente imerso em um líquido e este sobe pelo referido tubo. A aparência paradoxal do fenômeno provém da complexidade existente na identificação dos agentes físicos responsáveis pela citada elevação bem como dos seus mecanismos de atuação. Ele é basicamente explicado através de um modelo que sugere um balanço de forças de adesão (que seriam as forças entre as moléculas do líquido e as paredes do tubo) e as de coesão (aquelas entre as moléculas do próprio líquido). Uma discussão mais rigorosa é feita no referencial teórico deste trabalho em termos das forças de Van der Walls e o tratamento matemático está baseado na equação de Young-Laplace que relaciona o diferencial de pressão promovido pela elevação capilar do líquido com a tensão superficial deste mesmo líquido e com o raio de curvatura do menisco formado3,4,5.

Resultados e Discussão
O instrumento de pesquisa utilizado consistiu de uma sequência de entrevistas semiestruturadas com professores do ensino médio sobre o assunto em pauta, precedidas de uma demonstração do mencionado fenômeno. Os resultados da análise permitiram detectar alguns padrões interpretativos  comuns, todos eles, entretanto, bastante afastados da complexidade matemática do modelo científico vigente. Dentre os invariantes coletados destacam-se a perplexidade de alguns sujeitos com o fenômeno e as suas tentativas de reduzir as explicações a esquemas meramente mecânicos ou quando muito de natureza eletrostática. Uma discussão pormenorizada dos resultados e uma comparação dos modelos elaborados pelas duas populações investigadas são feitas na apresentação deste trabalho. Não foram encontradas diferenças significativas entre as complexidades dos modelos elaborados pelas duas populações, exceto pelo fato de que a referência às forças de adesão e de coesão apareceu de forma mais clara entre os professores de Química.

Conclusões
O trabalho evidencia como assuntos da importância e da complexidade do fenômeno da capilaridade precisam ter os seus ensinos a nível universitário redirecionados no sentido de contemplarem os modelos mentais do tipo daqueles observados entre os professores alvo da presente pesquisa. Não parece profícuo apresentar simplesmente a formulação matemática decorrente da lei de Young-Laplace sem que esta seja ancorada firmemente nos modelos mentais dos educandos.
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1 Coll, R.K. & Taylor, N. Chemistry Education: Research and Practice in Europe. 2002, 3, 2, 175-184.
2 Medeiros, C F. Ciência & Educação, 2001, 7, 2, 209-234.
3 Bikerman, J. J. Journal of Chemical Education, 1949, 26, 228.
4 Galembeck,, F., Gandur, M. C. Química e Derivados, 2001, 393.
5 Lee, L. H. Fundamentals of Adhesion. 1991, Plenum Press, New York.