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sexta-feira, 16 de março de 2012

As Dimensões do Universo

Universidade Federal Rural de Pernambuco
Fundamentos de Astronomia – 2012
Prof. Alexandre Medeiros, PhD



As Dimensões do Universo


1. As Dimensões da Terra
A Terra tem o formato aproximado de uma esfera com um diâmetro DT » 13.000 km. Deste modo, o comprimento de sua circunferência equatorial CT = 40.833,84 km.

Figura 1: Planeta Terra

Sendo a Velocidade da luz, c = 300.000 km/s, temos que a relação entre o diâmetro da Terra (DT » 13.000 km) e o comprimento de sua circunferência equatorial (CT = 40.833,84 km) é igual a: 7,34.

Vemos assim, que a luz percorre em apenas 1 segundo uma distância mais de sete vezes maior do que a circunferência equatorial da Terra. Um avião a jato comercial leva aproximadamente dois dias para dar uma volta equatorial completa em torno da Terra. Um astronauta em órbita dá esta mesma volta em apenas 100 minutos.


2. As Dimensões do Sistema Terra – Lua
Nosso vizinho astronômico mais próximo é a Lua. A distância Terra–Lua é de 384.000 km, ou seja aproximadamente 30 vezes maior que o diâmetro da Terra (que é de 13.000 km). A luz percorre esta distância Terra-Lua em aproximadamente 1,3 segundos.
Figura 2: Diagrama em escala da distância Terra-Lua

Os intervalos de tempo nas conversações entre os astronautas na Lua e o comando espacial na Terra (perguntas e respostas) duravam aproximadamente 3 segundos.
Começamos a perceber as dimensões colossais do Universo e do seu enorme vazio.


3. As Dimensões do Sistema Solar

Enquanto a Lua gira em torno da Terra em aproximadamente um mês (pouco mais de 27 dias), a Terra gira em torno do Sol em um ano.
 
3.1 O Sol
 
A distância da Terra ao Sol é de aproximadamente 150.000.000 km.

Deste modo, o Sol está aproximadamente 400 vezes mais distante da Terra do que a Lua (que, como visto acima, está a 384.000 km da Terra). A luz leva aproximadamente oito minutos para vir do Sol à Terra. Desde que o diâmetro do Sol é de aproximadamente 1,5 milhões de quilômetros, a distância da Terra ao Sol (150.000.000 km) equivale a aproximadamente 100 diâmetros solares.
 
3.2 Planetas Inferiores: Mercúrio e Vênus
 
Os planetas Mercúrio e Vênus giram em torno do Sol em órbitas internas à órbita da Terra. Por isso Mercúrio e Vênus são denominados de planetas inferiores. Deste modo, em certas ocasiões, estes dois planetas podem estar mais próximos da Terra do que o Sol.
Vênus (o planeta que chega mais próximo da Terra) quando de sua aproximação máxima da Terra encontra-se a uma distância da mesma que é aproximadamente 100 vezes maior que a distância entre a Terra e a Lua.
3.3 Planetas Superiores: Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno
Os cinco outros planetas (Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) giram em torno do Sol em órbitas exteriores à órbita da Terra. Por isso, eles são todos denominados de planetas superiores.
Até 2006, Plutão era também considerado um planeta (o mais afastado do Sol), Desde então, ele passou a ser enquadrado em uma nova categoria de “planeta anão”, o que discutiremos oportunamente no decorrer deste curso. Júpiter, o maior dos planetas do sistema solar, gira em torno do Sol a uma distância média 5 vezes maior do que a distância média entre a Terra e o Sol.
Esta distância média entre a Terra e o Sol é frequentemente usada como um parâmetro de referência na Astronomia e por isso é tomada como uma conveniente unidade de distância astronômica. Ela recebe, assim, o nome de unidade astronômica ou UA. 1 UA = 150.000.000 km, ou mais precisamente 1,496 x 108 km. Deste modo, o raio da órbita de Júpiter em torno do Sol é de 5 AU. Júpiter tem um diâmetro 10 vezes maior que o diâmetro da Terra. Isso implica que o volume de Júpiter é 1000 vezes maior que o volume da Terra. Mesmo sendo um planeta gigantesco, Júpiter tem um diâmetro aproximadamente 10 vezes menor do que o diâmetro do Sol. Assim, a volume de Júpiter é aproximadamente 1000 vezes menor do que o volume do Sol. Deste modo, pode-se perceber que o volume do Sol é aproximadamente 1.000.000 vezes maior que o volume da Terra. Plutão (tido até 2006 como o nono e mais externo planeta do sistema solar) está a uma distância do Sol de aproximadamente 40 AU.
A luz viaja do Sol até os planetas em intervalos de tempo que variam de alguns poucos minutos até algumas horas.


Figura 3: comparação das distâncias dos diversos planetas ao Sol.

A parte (a), à esquerda, mostra as órbitas dos planetas internos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte). O tamanho do Sol é mostrado na mesma escala das órbitas planetárias, mas os planetas, em si mesmos, não podem ser vistos nesta mesma escala.
 
A parte (b), à direita, mostra os planetas externos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) e mais o planeta-anão Plutão para comparação.
Mesmo que houvéssemos representado a órbita da Terra em torno do Sol por um minúsculo segmento de apenas 2 milímetros (o que impediria de representarmos convenientemente as órbitas de Mercúrio e de Vênus), ainda assim o raio da órbita de Plutão teria de ser representada por um segmento de oito centímetros.

Continuamos, portanto, a perceber as dimensões colossais do Universo e do seu gigantesco espaço vazio.

 
4. As Dimensões das Distâncias do Sol às Estrelas mais Próximas

O Sol é uma estrela de tamanho médio, cujas características específicas serão estudadas no decorrer deste curso.
A estrela mais próxima do Sol (Alfa do Centauro) está situada a uma distância de 300.000 AU. Isso equivale a dizer que esta estrela mais próxima do Sol, está a uma distância do mesmo 7.000 vezes maior do que o raio da órbita de Plutão.
Isto equivale também a dizer que se representássemos em um diagrama em escala a órbita da Terra em torno do Sol (que é igual a uma unidade astronômica, 1 UA) por um pequeno traço de apenas 2 milímetros, a distância do Sol à estrela mais próxima teria de ser representada, nesta mesma escala, por um enorme segmento de 600 metros.
Nesta mesma escala (distância Terra-Sol = 2 mm), a maior parte das centenas de estrelas mais próximas do nosso Sol deveriam ser representadas por segmentos que variariam de um a dois quilômetros de extensão.
Enquanto a luz leva aproximadamente oito minutos para vir do Sol à Terra, ela leva quatro anos para vir desde Alfa do Centauro, a estrela mais próxima, até a Terra. Por isso, dada às dimensões colossais de tais distâncias das estrelas, nós costumamos expressá-las utilizando uma unidade de distância bem maior e, portanto mais conveniente: o ano-luz.
Um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano, ou seja:. percebemos, assim, cada vez com mais clareza, as dimensões colossais do Universo e do seu gigantesco espaço vazio.


5. As Dimensões da Via Láctea

O nosso Sol, que nos parece tão grande da nossa humilde perspectiva terrestre, é apenas uma estrela de tamanho intermediário, dentre bilhões de outras estrelas (muitas delas bem maiores que ele) e que compõem a nossa galáxia, a Via Láctea.
A Via Láctea é um enorme conjunto de estrelas (entre 200 e 400 bilhões de estrelas). Ela tem a forma de um disco espiralado com aproximadamente 100.000 anos-luz de diâmetro e 2.000 anos-luz de espessura em seu bojo central.

A Via Láctea tem muitos braços que se enrolam em direção ao centro da galáxia. Eles vão desde o braço mais interno, o braço Norma, até o mais externo, o braço Cygnus. O Sol está localizado em um braço intermediário, o braço Orion, também conhecido como braço Local e fica a mais ou menos 30.000 anos-luz do centro da Via Láctea. Por suas modestas dimensões e pela sua localização periférica, o Sol não ocupa nenhuma posição de destaque na nossa Galáxia.


Figura 4: Diagrama da Via Láctea mostrando os seus braços em espiral e a localização do Sol

As enormes dimensões da gigantesca vastidão da Via Láctea podem ser mais bem compreendidas se as representarmos em um diagrama como o que se segue e que é composto de quatro partes.

Figura 5: Diagrama comparativo das dimensões da Via Láctea

Na figura (a) representamos todas as estrelas contidas em uma esfera imaginária (com um raio de 10 anos-luz) centrada no nosso Sol. Ela contém apenas 10 estrelas.
Na figura (b) representamos as estrelas contidas em uma outra esfera maior (com um raio de 100 anos-luz) centrada no Sol. Ela já contém 10.000 estrelas.
Na figura (c) representamos as estrelas contidas em uma esfera imaginária ainda maior que a anterior (com um raio de 1.000 anos-luz) e ainda centrada no Sol. Esta nova esfera já contém agora a enorme soma de 10.000.000 (dez milhões) de estrelas.
Note-se que este é já um número enorme de estrelas e elas estão contidas em uma colossal esfera com nada menos do que mil anos-luz de raio. A mesma luz que enquanto pronunciamos uma única letra (em mais ou menos 1 segundo) é capaz de percorrer uma distância maior do que sete vezes o círculo equatorial da Terra, gasta mil anos apenas para atravessar a metade da largura desta esfera.
Dito de outro modo, esta terceira esfera imaginária é tão grande que a luz que houvesse saído de uma estrela situada em um de seus lados há 500 anos atrás (na época do descobrimento do Brasil) ainda demoraria mais outros 500 anos para chegar até a Terra, colocada bem perto do centro da referida esfera.
Pois bem, observando a figura (d) podemos agora notar que mesmo esta gigantesca terceira esfera da figura (c) parece minúscula quando comparada às dimensões colossais da Via Láctea como um todo.  1.000 anos-luz é apenas a espessura da Via Láctea em um trecho já afastado de seu bojo central mais espesso, E como já enfatizamos anteriormente, o nosso Sol ocupa apenas uma simples posição periférica na Via Láctea.

Considerando agora a Via Láctea como um todo, a ordem de grandeza do número de estrelas é de 107, ou seja, da ordem de centenas de bilhões de estrelas.
Note-se que as estrelas observadas a partir da Terra rareiam em certas direções mais do que em outras. Isso se deve à posição do nosso sistema solar na Via Láctea e ao formato em disco achatado da mesma.
Quando olhamos através do plano da nossa Galáxia encontramos tantas estrelas que em nossa linha de visada que as mais remotas apresentam apenas um tênue brilho de luz em uma faixa circular em torno do Céu. Essa faixa de luz esbranquiçada, de aparência leitosa, é a origem do nome Via Láctea.

Figura 6: Foto da Via Láctea na região da Constelação de Sagitário

Figura 7: Composição em mosaico de várias fotos da Via Láctea em uma extensão angular de 360o

Nós não conseguimos ver diretamente através de toda a extensão da Via Láctea até as suas extremidades (passando pelo núcleo galáctico) porque o espaço interestelar não está completamente vazio. Ele contém uma distribuição esparsa de gás (principalmente hidrogênio) misturado com partículas microscópicas à qual denominamos de poeira interestelar.
Este material (a poeira interestelar) é tão rarefeita que o espaço interestelar constitui um vácuo muito melhor do que qualquer vácuo que se possa produzir nos laboratórios terrestres.
Entretanto, essa poeira interestelar, apesar de extremamente rarefeita, se estende por extensões tão vastas (milhares de anos-luz) que esmaece a luz proveniente das estrelas mais longínquas da nossa Galáxia.

Para termos uma idéia melhor das colossais dimensões da Via Láctea, consideremos a própria história da civilização humana. O que significa comparativamente esses 100.000 anos, tempo que a luz leva para atravessar a Via Láctea de lado a lado?

O nosso calendário oficial tem seu início há apenas 2010 anos atrás, isso é muito pouco, quase um nada em termos astronômicos. Recuando um pouco mais, as civilizações mais antigas (os primeiros hieróglifos egípcios) datam de 5200 anos atrás. Recuando ainda mais no tempo, 12.000 anos atrás, temos a invenção da agricultura. Ainda é muito pouco em termos astronômicos. Recuemos ainda mais no tempo entrando na Pré-história. Há 15.000 anos atrás, os primeiros homens migraram para as Américas. Há 30.000 anos atrás, os primeiros seres humanos chegaram à Europa. Há 50.000 anos atrás, os primeiros homens haviam chegado à Ásia e ao Oriente médio. Há 70.000 anos atrás, começaram as primeiras migrações humanas vindas da África. Há 250.000 anos atrás, o Homo Sapiens aparece na África.
Portanto, o tempo que a luz leva para atravessar a vastidão da Via Láctea é da mesma ordem de grandeza (107 anos) da própria existência do Homo Sapiens na face da Terra. Vale salientar ainda que o ser humano surgiu na Terra há aproximadamente 2.000.000 de anos atrás, bem depois da extinção dos dinossauros que se deu há 65.000.000 de anos atrás. E isso (como veremos na seqüência do nosso texto), ainda é quase nada em relação ao calendário astronômico do Universo. Só o nosso planeta tem 4,5 bilhões de anos de existência.

Percebemos, cada vez com mais admiração, as fantásticas dimensões do Universo e do seu gigantesco espaço vazio.

6. A Existência de Outros Sistemas Planetários
Vários outros sistemas planetários, além do nosso sistema solar, já foram detectados neste novo milênio. Isso será assunto de discussão futura. Na verdade, é muito provável que a maioria das estrelas tenha sistemas planetários. A quantidade, portanto, de possíveis planetas existentes na nossa Galáxia é simplesmente fantástica, devendo superar em muito o próprio numero de estrelas da mesma.
 
 
7. Aglomerados de Estrelas
Existem muitas estrelas duplas (pares de estrelas que giram em torno de um centro de massa comum), estrelas triplas e até mesmo sistemas de múltiplas estrelas que formam aglomerados de estrelas. Na verdade, estrelas solitárias não são uma regra, mas sim uma exceção em nossa Galáxia. Milhares desses aglomerados já foram devidamente catalogados.
Esses aglomerados de estrelas têm comumente desde apenas algumas dúzias de estrelas até centenas de milhares de estrelas cada um. Os diâmetros desses aglomerados estelares variam desde alguns poucos anos-luz até várias centenas de anos-luz.

8. As Dimensões das Galáxias e dos Aglomerados de Galáxias

  
Breve História do Estudo da Via Láctea e do Universo

Foi Demócrito (450 aC-370 aC.), ainda na Grécia Antiga, quem primeiro propôs a idéia de que aquela faixa leitosa vista no Céu noturno, a Via Láctea,  era na verdade composta por diversas estrelas distantes.
Foi apenas em 1610 que se conseguiu demonstrar a veracidade desta idéia. Naquele ano, Galileu Galilei utilizando o recentemente inventado telescópio, descobriu que a Via Láctea era de fato composta por uma enorme quantidade de estrelas.
Em 1755, Immanuel Kant sugeriu corretamente que a Via Láctea era, na verdade, um aglomerado de numerosas estrelas em rotação, mantidas unidas entre si pela força da gravidade, do mesmo modo que o sistema solar, mas em uma escala muitíssimo maior. Kant sugeriu também que algumas das manchas em formatos de pequenas nuvens (as nebulosas) observadas em um céu bastante escuro, deveriam ser galáxias como a nossa.
A primeira tentativa de descrever a forma da Via Láctea e a posição do Sol foi feita por William Herschel em 1785 através da meticulosa contagem do número de estrelas nas diferentes regiões do céu. Baseado nesta contagem, Herschel construiu um diagrama com a forma da galáxia com o sistema solar próximo do centro.
Em 1845, Lord Rosse construiu um enorme telescópio, para a época, e com ele conseguiu distinguir as diferenças entre uma nebulosa elíptica e uma em forma de espiral.
Entretanto, até o início do século XX, acreditava-se ainda que a Via Láctea fosse um sistema relativamente pequeno, com o Sol próximo de seu centro. Foi apenas em 1917, que Harlow Shapley realizou o primeiro cálculo rigoroso das dimensões da Via Láctea. Analisando a distribuição espacial dos aglomerados globulares (esféricos ou elipsóides) na Galáxia, Shapley descobriu que o Sol estava localizado a trinta mil anos-luz do centro galáctico e que estava mais próximo das bordas da Galáxia. Ele calculou que a Via Láctea deveria ter um diâmetro aproximado de cem mil anos-luz, e que havia outros corpos celestes aparentemente em órbita da mesma, que logo Edwin Hubble viria a demonstrar serem também outras galáxias.
Foi apenas em 1924, que o astrônomo Edwin Hubble conseguiu determinar aproximadamente a extensão do Universo. Hubble mostrou que, de fato, existem muitas outras galáxias e que estas se afastam de nós. Ao medir a velocidade com a qual as galáxias se afastavam (mostrando assim que se encontravam a uma grande distância), mostrou também que elas, estavam realmente fora da Via Láctea e eram assim como outras “ilhas” constituídas de estrelas.

Se até a década dos anos 1920, a Via Láctea era tida como sendo o próprio Universo como um todo, sabemos hoje que ela representa apenas uma parte quase insignificante do mesmo. Outras galáxias se estendem pela vastidão do Universo. Bilhões delas já foram detectadas com os nossos atuais telescópios.

Com o auxílio dos modernos telescópios terrestres e principalmente com o telescópio espacial Hubble, foi possível detectar recentemente a existência de inúmeras galáxias distantes em regiões do céu que até então nos pareciam completamente escuras.
Estas galáxias podem ser melhor estudadas de acordo com as suas distâncias da nossa Via Láctea.
Iniciando a nossa jornada de estudo nas proximidades da nossa Via Láctea, podemos perceber que as galáxias estão agrupadas em diversos aglomerados de galáxias. A própria Via Láctea faz parte de um pequeno aglomerado, o Aglomerado Local. Este pequeno aglomerado reúne apenas umas vinte pequenas galáxias, dentre as quais as maiores dentre elas são apenas a própria Via Láctea e a sua irmã gêmea em espiral, a galáxia de Andrômeda.

O Aglomerado Local (que contém a Via Láctea) se estende por vastos 3.000.000 anos-luz. Lembremos que a Via Láctea tem uma extensão aproximada de 100.000 anos-luz. Isso equivale a dizer, como mostra a figura seguinte, que ele ocupa uma região do espaço 900 vezes maior que a própria Via Láctea.

Figura 8: Comparação das Dimensões da Via Láctea e do Grupo Local de galáxias

Figura 9: Diagrama em Escala do Aglomerado Local de Galáxias Diâmetro = 30.000.000 anos-luz

Afastando-se ainda mais da Via Láctea, em torno de uns 10 a 15 milhões de anos-luz do Grupo Local, encontramos outros pequenos aglomerados de galáxias.


 Figura 10: Aglomerado de Galáxias na região da Constelação de Hércules

Afastando-se uns 50 milhões de anos-luz, ou mais, encontramos o mais próximo aglomerado de galáxias razoavelmente importante pelas suas dimensões. Ele contém pelo menos 1.000 galáxias (lembremos que o nosso Aglomerado Local contém em torno de apenas vinte galáxias). Mas, mesmo este gigantesco aglomerado (quando comparado ao nosso Grupo Local) ainda está longe de ser um dos “pesos pesados” do Universo.
Afastando-se ainda mais, a uns 400 a 500 milhões de anos-luz, encontramos o primeiro aglomerado de galáxias realmente grande. Ele reúne algo em torno de 10.000 galáxias.

Àquela distância, o volume espacial abarcado em nosso afastamento já é tão colossal que podemos encontrar nele centenas de milhares de outros aglomerados de galáxias espalhados pela imensa vastidão do Cosmos. Muitos deles são tão pequenos quanto o nosso Grupo Local.

Entretanto, a distâncias já da ordem de alguns bilhões de anos-luz, nós podemos encontrar outros gigantescos aglomerados de galáxias. Mais de 3.000 desses gigantescos e longínquos aglomerados de galáxias já foram catalogados.
Além disso, nesta escala monumental de distância já podemos perceber que os próprios aglomerados de galáxias se agrupam em super-aglomerados de galáxias. São aglomerados de aglomerados de galáxias; algo que só pode ser percebido devido ao efeito da enorme distância que os torna aparentemente diminutos.

Esses super-aglomerados de galáxias formam uma espécie de teia ou de rede espacial que ocupa organizadamente todo o Universo visível e que está separada por enormes bolsões de espaço vazio.
 Figura 11: Quasar

Há distâncias da ordem de 10 bilhões de anos-luz, encontramos objetos estranhos, que parecem estrelas, mas que são muito mais brilhantes do que galáxias encontradas àquela distância São os misteriosos Quasars, as coisas mais brilhantes do Universo.  Nós não sabemos ao certo o que são os quasars, mas temos boas razões para suspeitar que eles estão localizados no centro de galáxias gigantescas e que sua colossal energia está associada à presença de monstruosos buracos negros.

Se tentássemos mostrar a localização dos quasars no Universo em um diagrama na mesma escala da Figura 9 (no qual representamos em aproximadamente doze centímetros a extensão do Aglomerado Local); neste novo diagrama os quasars estariam representados a uma distância de um quilômetro. Nesta mesma escala, a nossa Via Láctea teria menos de 1/2 centímetro.

Podemos avaliar, agora, como as fantásticas dimensões do Universo e do seu colossal espaço vazio superam em muito as nossas mais ousadas expectativas iniciais. Mas, ainda não terminamos a nossa jornada em direção aos limites do Universo.


9. As Dimensões do Universo Visível

Os Quasars são as coisas mais longínquas que podemos realmente ver. Eles marcam os limites do Universo visível alcançável com nossos telescópios óticos. Nenhuma luz visível provém de regiões mais afastadas do que aquela onde se encontram os quasars.

10. Para Além do Universo Visível: O Big Bang

Para além dos quasars jaz, portanto, uma região escura do Universo, da qual nós só temos conhecimento através da tênue radiação eletromagnética que provém da mesma. Esta radiação de fundo tem um comprimento de onda bem maior que o da luz visível (a maior parte dela nos chega na faixa das ondas de rádio) e provém de todas as direções.

Tendo em mente que (segundo a Teoria da Relatividade) a luz tem uma velocidade finita, podemos perceber que as imagens que nos chegam destas regiões longínquas do espaço são também imagens de um passado longínquo. Nós vemos os distantes quasars como eles eram em um passado remoto. As imagens que nos chegam dos confins do Universo são assim também as imagens de sua própria origem.
Ao penetrarmos na região escura do espaço (para além dos quasars), guiados apenas pela tênue radiação de fundo que da mesma provém, nós obtemos informações do que devem ter sido os instantes seguintes ao próprio momento da criação do Universo; os instantes que se seguiram ao gigantesco Big Bang.



PARA CITAR ESTA FONTE: Medeiros, Alexandre. As Dimensões do Universo. Física e Astronomia_Alexandre Medeiros, BLOG.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Conversando com Marcgrave: A Origem da Astronomia no Hemisfério Sul

Conversando com Marcgrave: A Origem da Astronomia no Hemisfério Sul
Alexandre Medeiros & Fabio Araújo

Em 2005, eu e o professor Fabio Araújo publicamos um artigo no número 2 da Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia sobre a vida e a obra de George Marcgrave, o primeiro astrônomo a exercer sua atividade no Brasil em um verdadeiro observatório, no Recife do século XVII, em pleno período da colonização holandesa. O referido texto foi em parte uma ampliação factual e interpretativa de uma narrativa exposta inicialmente na monografia de graduação de Fabio no curso de Física da UFRPE, feita sob minha orientação. Vários outros fatos históricos foram acrescidos e um estilo de uma “conversa fictícia com o referido personagem histórico” foi adotado para tornar a sua compreensão mais acessível a um grande número de leitores da revista. O artigo é intitulado:
Conversando com Marcgrave: A Origem da Astronomia no Hemisfério Sul
Ele encontra-se disponível ON LINE no site da revista no LINK abaixo:

Rômulo Argentière e a Divulgação Científica no Brasil

Alexandre Medeiros (PhD, University of Leeds – Professor de Física e Astronomia, UFRPE)

Rômulo Argentière e a Divulgação Científica no Brasil


Ciência e Consciência na Vida e na Obra de Rômulo Argentière
Rômulo Argentière é um desses nomes que o Brasil ainda não soube reconhecer o seu real valor, deixando com isso de prestar-lhe o devido tributo. Argentière formou-se na Ecole de Physique et Chemie da Sorbonne em Paris, ainda nos anos 1930, quando a Física no Brasil começava apenas a ensaiar os seus primeiros passos. Ele foi pioneiro no minucioso levantamento geológico dos minerais radioativos e estratégicos no Brasil; pioneiro também na divulgação científica em nosso país, autor de vários artigos e livros científicos e de divulgação. Sendo poliglota – falava e escrevia em oito línguas – fez diversas traduções de obras importantes de vários idiomas, do inglês, do francês, do alemão e inclusive do russo. Dotado de uma vasta cultura científica e humanística, ele conseguiu produzir uma obra literária que motivou gerações para o estudo da ciência e em particular da Física e da Astronomia. Além de cientista e escritor de talento, Argentière foi também um nacionalista visionário, dotado de uma genuína consciência social.
Pensador de esquerda, ele lutou na campanha patriótica denominada de “O Petróleo é Nosso”, lado a lado com vultos históricos como o escritor Monteiro Lobato[i] – que foi inclusive seu padrinho de
casamento e um de seus melhores amigos – com o general Horta Barbosa e com vários outros
personagens históricos ilustres. Foi Monteiro Lobato quem descobriu o grande talento de Argentière para a divulgação científica e quem o levou para o terreno da literatura deste gênero. Juntos, os dois realizaram uma série de maravilhosas traduções dos melhores autores internacionais de ciência, criando uma tradição na história da divulgação científica brasileira.
Argentière publicou mais de três milhões de livros – um recorde absoluto, ainda hoje, em termos de livros de divulgação científica no Brasil – mas morreu pobre, na miséria, chegando a passar fome, em decorrência de problemas familiares e da completa falta de reconhecimento do Estado a quem ele prestara os seus mais valorosos serviços técnicos e científicos.
Tendo sido um professor notável e um conferencista brilhante – a quem o autor do presente artigo, teve o prazer de assistir a algumas de suas inúmeras palestras em Recife em 1973 – Argentière levou uma vida sem ambições pessoais, totalmente dedicada à pesquisa e à divulgação científica e aos muitos amigos que conquistou em vida com sua radiante simpatia, com o magnetismo da sua inteligência e o brilho da sua vasta cultura científica e humanista.
Educador influente, Argentière costumava dizer que “ser professor é combater as trevas”. Defendia ardentemente a liberdade acadêmica e certa vez, diante de uma intervenção arbitrária do governo na escolha de um reitor de uma instituição federal de ensino no Rio Grande do Norte, ele foi enfático em suas palavras, classificando a medida como uma: “intervenção indevida do poder central  na autonomia universitária” e assinalando ainda que: “é uma vergonha o que está se fazendo” (Argentière, In Rosado & Rosado, 2002, p. 78).
Homem decidido e corajoso, Argentière lutou pelos seus ideais com bravura e dedicação, mas também com ternura no coração; assim o descrevem os seus muitos amigos. Por abraçar, como dissemos acima, a causa nacionalista “O Petróleo é Nosso”, ele foi perseguido pelas autoridades mais reacionárias do país. Os seus conhecimentos científicos também lhe trouxeram alguns problemas com as autoridades governamentais ao escrever, em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, um artigo jornalístico no qual antevia e explicava em linhas gerais os princípios de funcionamento de uma bomba atômica e o uso da energia nuclear como elemento de destruição. Isso, em uma época em que o referido assunto era um alto segredo de Estado dos países aliados – a destruição de Hiroshima só ocorreria dois anos mais tarde. Segundo a sua própria narrativa:
Fui levado a interrogatório pelas Forças Armadas, mas me safei com a lógica: havia lido em algumas revistas especializadas da Inglaterra, às quais tinha acesso, que os cientistas norte-americanos estavam tentando separar o urânio 235 do urânio 238. Eu, como especialista, deduzi rapidamente que isso poderia desencadear uma grande liberação de energia que, possivelmente, seria usada com fins bélicos”, escreveu Rômulo, em uma de suas cartas. (Argentière, apud Mauso, 2002).
Como homem de esquerda, Rômulo referia-se sempre ao golpe de Estado perpetrado pelos militares em 1964, como a “revolução de primeiro de abril”, enfatizando, assim, de forma irônica, a origem daquele evento como a de um autêntico embuste. Certa vez, em uma carta a um amigo fraterno, ele se referiu com admiração a um seu ex-colega – Ortiz Monteiro – com palavras que dão uma clara ideia do que ele mesmo pensava sobre a ditadura militar que dominou o Brasil por três décadas: “A última vez que conversei com Ortiz Monteiro foi ao final de 64 ou 65, no qual ele me dissera que iria pedir aposentadoria do cargo para não ter de acusar velhos companheiros de jornada, por causa da revolução de 1o de abril. Nunca mais o vi e creio até que se mudou de São Paulo. Isto mostra a inteireza de seu caráter e de sua formação moral e educacional” (Argentière In Rosado & Rosado, 2002, p.60).
No início dos anos 60, Argentière, com seu pensamento de esquerda, não apenas emitia esse tipo de opinião, como exercia sobre os amigos uma considerável influência positiva. Um de seus muitos amigos, o jornalista Leonardo Bezerra, alude a esta influência em uma carta dirigida a Rômulo: “suas informações me tornaram um bolchevique paulista de 400 anos. /.../ E os planos do futuro seu Argentière? /.../ A situação de Cuba (como gostaria de ir lá) dá inveja! E a China, não irá por lá? E o resto do mundo, meu amigo, apesar de terem morto o Lumumba vai chegando ao limiar da grande era” (In Rosado & Rosado, 2002, pp.8-9).
Argentière, entretanto, tinha uma posição mais crítica do que a desse seu fraterno amigo e uma profunda consciência histórica da situação brasileira. Sem qualquer apego a fortuna pessoal e a bens materiais, Argentière sofria ao ver as péssimas condições de vida e a miséria do povo do Nordeste, mas tinha uma reflexão histórico-científica desta situação de penúria. Ele sabia, sobretudo, que as soluções técnicas e científicas existiam, pois dedicou os últimos vinte e cinco anos de sua vida a estudar o problema e a produzir uma obra científica magistral sobre o assunto, com mais de 4.000 páginas e intitulada: “O Ciclo d’Água no Nordeste Brasileiro”; mas que infelizmente, jamais foi publicada devido à total falta de interesse das autoridades governamentais deste país. Na atualidade, quando políticos mal informados, assessorados às vezes por técnicos a serviços de altos interesses econômicos, anunciam o desvio das águas do rio São Francisco como a redenção do Nordeste, seria no mínimo interessante consultar a obra de um cientista que dedicou 25 anos de sua vida ao estudo criterioso do problema da água no Nordeste. Mais que nunca é preciso e urgente resgatar a obra científica de Argentière, no mínimo como um alerta contra certas decisões políticas oriundas da falta de informações ou de uma análise pouco cuidadosa dos problemas. Se o problema for apenas a falta de informações, que se comece consultando a obra de quem estudou criteriosamente o problema. Decisões políticas equivocadas são muitas vezes tomadas como um resultado de análises mal elaboradas. Afinal, como dizia Santo Agostinho: “Não se deve creditar à má fé, aquilo que pode antes ser atribuído à ignorância”.
A reflexão histórica de Argentière lhe indicava que o problema da seca e da fome no Nordeste era, sobretudo, político e diretamente ligado à posse da terra, à estrutura fundiária, à consciência popular e a questão ética da falta de solidariedade humana: “um dos graves defeitos da economia do Nordeste é a falta de cooperativas e do espírito de cooperação entre seus habitantes. É ainda o resíduo do colonialismo lusitano que permanece como herança do nordestino” (Argentière In Rosado & Rosado, 2002, p.119). Para Argentière estava muito claro que o problema da fome e da sede no Nordeste não era apenas o problema da seca, mas também e principalmente o problema da cerca.
Fundamentado na sua leitura de Hobson (1949), Argentière afirmava que o crescimento da grande empresa tomava necessariamente o caminho da cartelização. E a sua metralhadora giratória não se dirigia apenas ao capitalismo monopolista em sua forma tradicional europeia e norte-americana, mas também ao capitalismo de Estado, travestido de regime socialista como no caso da poderosa China. Dizia Argentière: “no caso do Nordeste brasileiro, cujas minas de sheelita – as maiores do continente – foram prejudicadas pelo truste do tungstênio da China de Mao Tse Tung. Na realidade é um truste com todas as letras, em que a totalidade das ações de diferentes empresas é transferida para o conselho estatal que exerce completo controle na exportação e nos preços. O resultado dessa intervenção não se deve esperar: fecharam-se as minas de sheelita no Rio Grande do Norte, porque os produtores nordestinos, com algumas exceções, garimpeiros, não podem enfrentar os produtos chineses que vendiam o tungstênio pela metade do preço, mais o transporte do minerio até os portos chineses para portos brasileiros” (Argentière in Rosado & Rosado, 2002, pp.119-120). Argentière, deste modo, percebia que a competição capitalista internacional se dava também a partir de países ditos socialistas, mas que utilizavam práticas de mercado muito semelhantes às dos países assumidamente capitalistas. Referindo-se ao caso chinês, ele afirma que regimes socialistas deste tipo são estatizantes utilizando a sua concentração de poder político e econômico para formar verdadeiros trustes.
Ele alia a sua análise histórica e econômica da situação política a uma dimensão ética que lhe conduz a ver que no caso específico brasileiro algumas mazelas tradicionais contribuem para acentuar ainda mais o problema. Em 1995, já no final de sua vida, em pleno governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, Argentière já comentava com sua esposa sobre a crescente gravidade do problema: “fiquei consternado e ao mesmo tempo indignado, pois nestes últimos anos de um governo corrupto, da falta de reconhecimento ao trabalho de toda uma vida... enfim, coisas que infelizmente acontecem no Brasil” (Argentière In Rosado & Rosado, 2002, p.98). O que diria ele nos dias atuais se não tivesse falecido? Parece que não há nada de mal em nosso país que não possa ainda piorar.
Argentière referia-se com indignação, sobretudo, ao governo Collor, que taxava como tendo sido uma verdadeira catástrofe (Argentière In Rosado & Rosado, p.83). A sua análise da situação política brasileira era, apesar de todas essas mazelas, otimista, pois vaticinava de forma profética: “nós apenas estamos sofrendo o impacto dessa crise: falta de trabalho, liquidação da mineração do Nordeste /.../ Esta elite mascarada que tome cuidado! O povo ainda está paciente. Mas, um dia esta paciência pode se esgotar. Então, não haverá forças militares capazes de deter esta onda” (Argentière In Rosado & Rosado, 2002, p.79).
Mas, afinal, qual foi a história deste personagem tão combativo no cenário da ciência no Brasil? Onde ele nasceu, onde estudou e o que escreveu? Como dimensionar a sua importância para o desenvolvimento da divulgação cientifica no Brasil? Retornemos, portanto, ao início da sua longa caminhada.

Fragmentos Biográficos de Rômulo Argentière
Rômulo Argentière era descendente de uma tradicional família originária da pequena cidade de Argentière, nos Alpes franceses, a mais de 1200 metros de altitude e de onde se tem uma bela visão do Monte Branco.  Mesmo na atualidade, aquela pequena cidade tem apenas 2000 habitantes e o seu nome deriva do fato de que ali havia mineração de prata – Argent – na Idade Média. O seu nome, portanto, significa “minerador de prata”, um curioso prenúncio para alguém que viria a se destacar, dentre outras coisas, como um dos maiores mineralogistas do Brasil. Chegando ao Brasil no século XIX, os Argentière fixaram-se inicialmente no interior de Minas Gerais, na divisa com São Paulo, onde ficam as cidades de Monte Sião, Poços de Caldas, Águas de Lindóia, Serra Negra e Amparo. Rômulo nasceu no lado paulista daquela região, na cidade de Amparo, em 23 de dezembro de 1916.
Argentière realizou os seus estudos primários em Amparo e por falar francês em casa desde pequeno, ele foi a criança escolhida para fazer um breve discurso de saudações para a célebre física e química francesa, de origem polonesa, Marie Sklodowska Curie quando de sua visita àquela cidade, de passagem para Poços de Caldas, em agosto de 1926[ii]. Argentière fez os seus estudos secundários
em Amparo, em Campinas e na cidade de São Paulo. Aquele seu contato, quando ainda criança, com a referida cientista – ele tinha na época, apenas 10 anos de idade – deve ter influenciado decisivamente o pequeno Rômulo, fazendo com que aos dezessete anos, ao concluir o curso secundário, ele tomasse a decisão de estudar em Paris, exatamente no Instituto até então dirigido por Marie Curie.
A viagem de Argentière para estudar em Paris se deu em fins de 1932, logo após o término da Revolução Paulista. Este é um momento histórico que coincide também com a fundação na cidade de São Paulo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – da qual se originaria a Universidade de São Paulo – também com forte influência europeia. Assim, no início dos anos trinta, ao mesmo tempo em que nas primeiras turmas de Física da Faculdade de Filosofia de São Paulo formava-se a primeira geração dos grandes físicos brasileiros – na qual despontariam nomes como os de Mario Schemberg, José de Leite Lopes e Marcelo Dammy – na França, Rômulo Argentière iniciava os seus estudos na “Ecole de Physique et Chemie” da Université Sorbonne em Paris, uma instituição que havia sido dirigida por Marie Curie. Para conseguir realizar este seu intento de estudar em Paris, o jovem Argentière foi agraciado com uma pequena bolsa de estudos do governo francês.
Marie Curie nasceu em 1867 e veio a falecer em 1934. Em 1932, no ano que Argentière chegou a Paris, ela já tinha 65 anos e sofria de leucemia, não exercendo mais as suas atividades docentes e de pesquisa. Argentière, ainda jovem, chegou, entretanto a ser aluno de Irene Curie e de Frédéric Joliot-Curie, respectivamente filha e genro de Marie Curie, ambos agraciados com o prêmio Nobel, como já haviam sido antes Marie e Pierre Curie[iii]. O jovem Rômulo recebeu uma forte influência tanto
científica quanto ideológica de Frédéric Joliot-Curie, um dos grandes baluartes da esquerda francesa, ativo militante comunista e herói da resistência francesa, além de um físico de notável talento.
Argentière estudou também com Paul Langevin, um outro notável físico francês. Ex-aluno de J. J. Thomson e um dos maiores físicos franceses do século XX. Argentière permaneceu na Ecole de Physique et Chemie até 1938 quando recebeu o seu diploma de bacharel em Ciências Físicas, Químicas e Matemáticas, especializando-se no campo da radioatividade natural. Argentière cursou ainda, paralelamente, o curso de Engenharia de Minas na “Ecole National Superieur des Mines”.
Em 1938, com a proximidade da Segunda Guerra Mundial, ele voltou ao Brasil, sem haver ainda concluído o seu curso de Engenharia, só retornando à França para concluí-lo em 1948, três anos após o término do conflito.
Após o seu retorno ao Brasil (1938), Argentière lecionou Física em alguns colégios de São Paulo e logo começou a sua longa e profícua carreira como técnico, cientista e escritor de divulgação científica. Nesta mesma época, ele foi redator de ciências da União Jornalística Brasileira na qual trabalhavam Monteiro Lobato e Menotti Del Pichia. Ele foi também contemporâneo de outro notável pioneiro da divulgação científica no Brasil, o médico e professor José Reis. Nesta fase inicial, Argentière escreveu vários artigos de divulgação para diversos jornais: “Jornal da Manhã”, “A Noite”, “O Estado de São Paulo”, “Folha da Manhã”, “Diário de São Paulo”, “O Roteiro”, “O Planalto” e “O Tempo”.
Argentière foi, também, redator técnico do Ministério da Fazenda de 1942 a 1948 e assistente técnico do Consulado Britânico na seção de “matérias primas” durante a segunda Guerra Mundial de 1942 a 1945. No mesmo dia em que o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial – 20 de agosto de 1943 – Argentière foi nomeado pelo presidente Getúlio Vargas para o cargo de redator técnico do Ministério da Fazenda, cargo este que ele acumulou durante o conflito com o posto de assistente técnico do Consulado Britânico em São Paulo. Por força de suas obrigações, Rômulo passou então a ter a incumbência de localizar jazidas de minerais estratégicos destinados ao esforço de guerra aliado. Ele, de início, tinha a tarefa de acompanhar vigilantemente os especialistas norte-americanos em busca de minérios para a indústria bélica daquele país. Desde então, passou a viver parte do ano no Nordeste como consultor e pesquisador de empresas de mineração.
Por esta época ele já havia se graduado pela Ecole de Physique et Chemie de Paris, mas não havia ainda concluído os seus estudos de Engenharia de Minas, interrompidos com a eclosão da guerra. Fez então cursos – que o introduziram naquela nova especialidade – na Escola Politécnica e no Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo e logo em seguida na Escola de Minas de Ouro Preto e na Escola de Engenharia de Belo Horizonte, onde passou a ser discípulo do geólogo Djalma Guimarães[iv].

De 1948 a 1956, Argentière foi consultor-técnico do Estado Maior das Forças Armadas, tendo prestado relevantes serviços no tocante ao problema dos minerais radioativos. Em 1950, elaborou o projeto sobre a criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), apresentado na câmara federal pelo deputado nacionalista Euzébio Rocha, tendo o referido órgão sido criado apenas em 1956.
Em 1951, Argentière viajou à Polônia, em plena época da guerra fria, para participar do I Congresso Internacional para a Aplicação Prática da Energia Nuclear. De lá ele seguiu para Leningrado, na União Soviética[v], onde fez cursos de Geoquímica baseados nos trabalhos de Feraman. Em seu retorno ao
Brasil Argentière introduziu novas técnicas nos trabalhos de campo de localização de jazidas minerais em colaboração com seu mestre Djalma Guimarães.
A partir de 1956, Argentière passou a fazer parte dos quadros da recentemente criada CNEN, trabalhando no serviço de campo, ou seja, na prospecção de minerais radioativos e estratégicos no Nordeste – principalmente tório e urânio – até 1960. Foi devido a este seu engajamento nestes estudos geológicos em busca da localização de minerais estratégicos, que Rômulo Argentière viria a se tornar familiarizado com a região Nordeste do Brasil e um conhecedor privilegiado da sua Geologia. Ele trabalhou também na prospecção de campo para várias firmas mineradoras em São Paulo e em outras regiões do Brasil. Entretanto, apesar de trabalhar para o governo, Argentière era um crítico ácido do programa nuclear brasileiro, em especial das usinas de Angra dos Reis.
O Nordeste tornou-se, desde os anos 40, uma das paixões de Rômulo Argentière. Aos 78 anos, em 12 de dezembro de 1994, já há muito tempo morando no Nordeste, Argentière casou-se novamente; desta vez no interior do Rio Grande do Norte, em Carnaúba dos Dantas, com a professora primária Marinês Dantas, que já era sua companheira há vários anos. Foi em Carnaúba dos Dantas que Argentière morreu, em 1995, debilitado pelo abandono governamental, pela fome, por um câncer no esôfago, por um derrame cerebral e por três acidentes automobilísticos. Apesar de toda a sua luta em prol das causas nacionais, de toda a sua abnegação na produção de uma literatura de divulgação científica de qualidade, ele veio a morrer na mais absoluta miséria no interior do Rio Grande do Norte. Já velho, ele passou fome e morreu em 1995 como um indigente, sem qualquer amparo das autoridades do país pelo qual dedicou toda a sua vida. Amparado apenas pela esposa e pelos seus amigos mais próximos – como o fiel Vingt-Un Rosado Maia, que tentou aliviar o seu sofrimento, infelizmente sem o sucesso desejado[vi]Argentière teve um fim que foi bem descrito por outro de seus melhores amigos, o astrônomo amador cearense Rubens de Azevedo[vii].
Rubens de Azevedo além de grande amigo de Rômulo foi seu companheiro por quase 14 anos no observatório Capricórnio, fundado em São Paulo por ele e por Jean Nicolini[viii].

Azevedo escreveu sobre Argentière uma frase lapidar: “meu velho Rômulo teve uma bela vida de trabalho científico: viveu plenamente e derramou conhecimentos por todo o Brasil através de seus magníficos livros. Infelizmente teve um triste fim.” (Azevedo in Rosado & Rosado, 2002, p.92). A biografia e a obra de Rômulo Argentière permanecem, de certo modo, ainda esquecidas e pelo seu valor precisam ser resgatadas, preservadas e divulgadas para as gerações mais jovens.
Este texto é uma tentativa singela de recuperar, ao menos em parte, a memória de uma parcela da vida e da obra deste importante personagem histórico brasileiro que foi Rômulo Argentière. É uma tentativa de prestar-lhe uma homenagem póstuma através de um resgate – ainda que forçosamente incompleto – de sua biografia.

A Extensão e a Importância da Obra de Divulgação Científica de Argentière       
A extensa e valiosa obra de divulgação científica de Rômulo Argentière inclui as suas muitas palestras e os seus inúmeros escritos. Em suas muitas viagens pelo Brasil jamais deixou de proferir palestras e divulgar com bastante eloquência a Ciência para o grande público. De 1938 a 1967 ele publicou mais de 300 artigos científicos ou de divulgação sobre os mais variados temas.
Aliada à sua atividade técnico-científica e ao seu empenho em campanhas nacionalistas, Argentière foi, sobretudo um profícuo divulgador da ciência em nosso país tendo incentivado gerações a enveredarem pelos mistérios e pelos encantos da Física, da Astronomia e da Astronáutica. Ele publicou centenas de artigos científicos e de divulgação em periódicos nacionais e internacionais e mais de trinta livros de divulgação científica. Além disso, foi um conferencista brilhante apresentando ao longo de sua vida mais de quinhentas palestras de divulgação sobre os mais variados temas científicos: Mineralogia, Radioatividade, Geologia, Astronomia, Astronáutica, Física e Geoquímica. Ao final de sua vida ele voltou a sua preocupação para as questões ambientais, tendo inclusive escrito um livro sobre este tema. Argentière era um poliglota, dominando sete idiomas, além do português: inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, russo e flamengo. Traduziu diversas obras de valor para o português, dentre elas: do alemão, “Aforismo para a Sabedoria da Vida” de Arthur Schopenhauer; do inglês, “A Ciência Avança” de Rogers Rusk; do russo, várias obras de Yakov Perelman, Abraham Ioffe, Fessenkov Oparin e Anatoly Kudriavtsev.
A sua ligação com a União Soviética e em especial com a causa do socialismo e com a ciência produzida naquele país, são traços marcantes de sua atividade intelectual. Mas, foram, sobretudo os livros de sua própria autoria que consolidaram o renome de Argentière como um dos grandes pioneiros da divulgação científica no Brasil. Sua obra é vasta incluindo uma grande variedade de títulos apontados na bibliografia do presente artigo. Em uma determinada área do conhecimento, entretanto, a vasta obra de divulgação científica de Argentière atrai a nossa atenção de um modo particular: naquela dedicada à divulgação da Astronomia.
De fato, os temas ligados à Astronomia ocupam um lugar de relevo na obra de divulgação científica de Rômulo Argentière. Ele foi um entusiasta do estudo desta ciência e um notório divulgador da mesma para a juventude numa época em que o acesso à informação científica de qualidade para o povo não era uma coisa de fácil obtenção. Pelo conjunto de sua obra ele chegou a ganhar a medalha do mérito jornalístico da Associação dos Profissionais de Imprensa de São Paulo. Argentière fundou ou auxiliou a fundar várias associações amadoras de estudos da Astronomia no país. Ao lado de outros entusiastas como ele – como, por exemplo, Jean Nicolini e Rubens de Azevedo, ele ajudou a fundar o Observatório Capricórnio em Campinas.
De consciência cultural latino-americana, Argentière foi membro efetivo de Associações de Astronomia da Argentina, Uruguai, Chile, Peru e Equador. Foi sócio honorário da Associação de Astronomia de Cambuquira, da Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia, da União Brasileira de Astronomia, da qual foi membro do conselho científico e diretor da Liga Latino-Americana de Astronomia. Sempre voltado para a divulgação da ciência e não apenas para a sua produção, Argentière construiu uma obra alcance popular tão ampla que demanda um certo esforço para ser apreciada em sua inteireza. Na atualidade ainda se edita no Brasil muita coisa importada sem o mesmo valor da obra pioneira de Rômulo Argentière. Isto implica em uma necessidade histórica cada vez maior de que a sua obra seja conhecida. Além disso, há a necessidade de que se publique finalmente a sua obra maior, ainda inédita, sobre o estudo do ciclo das águas no Nordeste. Esta necessidade é tanto mais atual, quanto mais se agrava o problema do abastecimento de água na Terra, problema este causado nos últimos anos pela agressão suicida do próprio ser humano aos recursos naturais do nosso planeta.
Uma apreciação, porém, ainda que em parte, da importância desta importante e pioneira obra de divulgação científica construída por Argentière, implica em fazer-se uma análise historicamente situada da mesma e que leve em conta, portanto, o fato de que a sua contribuição é necessariamente datada. Não podemos tentar julgar com o nosso conhecimento atual do século XXI a justeza de conceitos emitidos por vezes há cinquenta anos atrás. É preciso, deste modo, adotar-se uma perspectiva histórica cuidadosa para que se possa de fato aquilatar com justiça o valor real da contribuição de Argentière à difusão popular e pioneira da ciência no Brasil e à luta por causas tão belas como a da educação popular, do combate à fome e à seca e a preservação do meio ambiente. No caso particular da divulgação da Astronomia isso poderia ser conseguido apreciando-se as mensagens contidas e o estilo leve e claro por ele adotado em obras como: “Átomos e Estrelas” (1957), “A Terra” (1957), “O Sol e os Planetas” (1959) e “Astronáutica” (1966). Uma análise detalhada destas obras demanda, porém, um esforço que transcende os horizontes do presente trabalho, mas que se coloca como um importante desafio que mereceria ser encarado em outros estudos deste ou de outros pesquisadores cujos interesses estejam ligados tanto à ciência (especialmente à Astronomia), quanto à sua divulgação e mais especificamente à importância da mesma no contexto mais amplo da educação em ciências.


NOTAS


[i] Monteiro Lobato foi um dos maiores autores brasileiros. Ele destacou-se também na campanha nacionalista em defesa da exploração dos nossos recursos naturais; a célebre campanha intitulada “O Petróleo é Nosso”. Neste contexto, Lobato notabilizou-se, inclusive, com o seu livro “O Escândalo do Petróleo”, de 1936. Ele tornou-se, porém, conhecido principalmente pelos seus livros infantis, com personagens fascinantes como Emília, Narizinho, Pedrinho e o Visconde de Sabugosa, todos eles habitantes do Sítio do Pica Pau Amarelo. Lobato, entretanto, mas, foi autor de uma obra literária bem mais vasta que a infantil, assim como de traduções de importantes obras científicas, dentre elas a do influente livro “A Evolução da Física”, de Albert Einstein e Leopold Infeld.

[ii] Marie Curie e sua filha Irene Curie vieram ao Brasil em agosto de 1926. Madame Marie havia sido convidada pelas autoridades brasileiras para visitar o país e inaugurar as instalações do então recém criado Instituto do Radium de Belo Horizonte. Ela visitou o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais tendo recebido o título de Membro Correspondente da Academia Brasileira de Ciências, fato este que, como assinala Massarani (1998), tornou-se um marco na participação feminina no campo da ciência e da tecnologia no Brasil. A importância dada à sua visita foi tanta que as suas conferências chegaram a ser irradiadas pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.

[iii] Frederic Joliot-Curie e sua esposa Irene Curie ganharam o prêmio Nobel de Química de 1935 pelos seus trabalhos sobre a estrutura atômica e a descoberta da radioatividade artificial.

[iv] Djalma Guimarães era sobrinho do grande poeta e romancista brasileiro Bernardo Guimarães (1825-1884). Ele seguiu os passos do célebre geólogo francês Claude-Henri Gorceix – descendente do célebre físico e químico francês Joseph Gay-Lussac. Gorceix era também tio por afinidade de Djalma e havia sido o introdutor dos estudos geológicos no Brasil e fundador da Escola de Minas de Ouro Preto. Djalma formou-se pela referida Escola, na turma de 1919 tornando-se um dos maiores geocientistas do Brasil. Ele descobriu  uma variedade de microlita uranífera denominada mais tarde, em sua homenagem, de djalmaíta. Quando Djalma se formou pela Escola de Ouro Preto, o pequeno Rômulo Argentière, nascido em 1916, tinha então apenas três anos de idade.

[v] Rômulo Argentière guardou sempre uma grande simpatia pelo povo russo e pela ciência soviética. Ele não apenas fez várias traduções do russo, como manteve também uma ativa correspondência com seus colegas cientistas membros da Academia Soviética de Ciências.

[vi] Vingt-Un Rosado Maia conta como foram os últimos dias do grande cientista. “Eu fui buscá-lo para fazer a cirurgia em Mossoró, não deu certo. Levei para Dr. Ernani Rosado, para uma cirurgia que durou 6 horas. Eu tinha, juntamente com Frederico Rosado, pleiteado a Garibaldi uma pensão especial de 10 salários mínimos. Rômulo estava no hospital internado e Garibaldi me comunicou, já assinei o ato, dei a pensão a seu amigo. Eu pensei: Rômulo está na UTI, a vida toda ele esperou esse decreto, a Assembléia votou, José Agripino engavetou, Garibaldi assinou. Se eu for dizer agora, esse homem morre hoje de noite. Não morreu de noite, mas morreu na manhã seguinte” .

[vii] Nascido em 30 de Outubro de 1921 na cidade de Fortaleza, o astrônomo cearense Rubens de Azevedo é autor entre outros dos seguintes livros: Selene*, a lua ao alcance de todos; Lua degrau para o infinito; No mundo da Estelândia; Na era da Astronáutica; Lenda feita de pedra; O cometa de Halley e a Bandeira Nacional. Foi pioneiro ao criar, em 1947, a primeira Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia (SBAA), e, em 1948 fundar o primeiro observatório popular Brasileiro, o Observatório Popular Flammarion e também, a Sociedade Brasileira de Selenografia, em São Paulo. No mesmo ano, desenhou o Primeiro Mapa Lunar Brasileiro, com 80 cm, que se encontra exposto no Museu Nacional de Astronomia. Durante um eclipse lunar, descobriu um vale lunar, cuja existência foi confirmada por observatórios chilenos, os quais à época, sugeriram à União Astronômica Nacional a atribuição do nome "Vale Azevedo". Descobriu também um fenômeno Lunar Transitório na Cratera Aristarco, confirmado pelo astronauta Edwin Aldrin quando em órbita lunar. Foi professor de Selenografia na Escola Municipal de Astrofísica em São Paulo, professor assistente de Astronomia e Astronáutica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba e professor de Geografia Astronômica na Universidade Estadual do Ceará. Fundou o Observatório Astronômico da Paraíba e participou durante seis anos como membro ativo do Lunar International Observers Network, criado pela Nasa para assessorar as missões Apolo. É responsável pela instalação de associações e clubes de Astronomia e de observatórios e planetários no Brasil. É pioneiro na luta pela implantação de um planetário no Ceará.

[viii] Jean Nicolini, nasceu na cidade de São Paulo/ SP no dia 9 de abril de 1922 e faleceu no Município de Americana no dia 23 de julho de 1991, morte esta, ocasionada por um acidente automobilístico na Rodovia Luiz de Queiroz, quando se dirigia ao Observatório Municipal de Americana – OMA, para desempenhar suas funções de astrônomo. Seus pais eram franceses, razão pela qual cultivava grande admiração por aquele país e fluência no idioma francês. Jean era um homem que perseguia seu ideal e o conquistava a todo custo. Autodidata, foi apaixonado pelas ciências humanas e exatas, mas seu grande interesse e paixão era norteado para a Astronomia, que exercia nele o maior dos fascínios. Jean fundou no dia 15 de outubro de 1948, na cidade de São Paulo, o Observatório do Capricórnio - Entidade Civil Sem Fins Lucrativos”, realizando assim seu grande sonho. Entre os colaboradores da fase inicial do Observatório destacavam-se: Rubens de Azevedo, Rômulo Argentière, Paulo Gonçalves, Francisco Jehovah, Frederico Funari e Norberto Parada. Em 1976, muda-se para a cidade de Campinas/ SP com sua família, quando recebe convite do então Prefeito Lauro Péricles Gonçalves, por ocasião da criação do Observatório de Campinas, para que o Observatório do Capricórnio assine convênio de atuação técnico científico, operacionalizando as atividades, numa atuação conjunta. Assim em 15 de janeiro de 1977 inaugurava-se a Estação Astronômica de Campinas. O primeiro Observatório Municipal do País estava implantado e o sonho de Jean Nicolini realizado.